O talento que Fernanda Young
tinha com as palavras, Estela May,
sua filha, tem com o desenho.
Aos 20 anos, já é inspiração
para Laerte e publica seus
quadrinhos na ‘Folha de S. Paulo’

Texto: caio ferretti
Fotos: arquivo pessoal/
divulgação

estela may

desenha para
você enender

Sabe aquelas aulas chatas
na escola que você acha que
não vão servir para nada na
sua vida? Para Estela May,
elas serviram muito. Foi ali
que ela começou a esboçar –
literalmente – uma profissão

“Eu aproveitava
para desenhar”, diz.
“Primeiro eram rostos.
Depois migrei para uns
negócios mais estranhos,
como ratos tendo conversas
significativas”

Poucos anos depois de sair
da escola, Estela é uma das
principais quadrinistas do país.
Aos 20 anos de idade, publica
seus desenhos diariamente no
jornal Folha de S. Paulo

Suas inspirações?
A resposta de Estela é
rápida. “A Laerte é sempre
a resposta na ponta da
língua. Ela é incrivelmente
maravilhosa”, diz

Tirinha: Laerte/ reprodução

Laerte retribui o afago:
“A Estela May é uma das
MINHAS inspirações”

“Quando vi o trabalho
dela, só conseguia me
espantar: de onde ela
veio, com esse trabalho
tão maduro e denso?
Faz pensar em alguém
com uma trajetória de
muitos anos”, diz Laerte

Outras inspirações de
Estela são João Montanaro
– “gosto tanto que dá
vontade de dar um soco
na cara” – e o americano
Josh Mecouch

Tirinha: João Montanaro/ reprodução

Quadrinistas à parte, a verdade
é que a principal motivação de
Estela para desenhar não se
expressava com traços, mas com
palavras. Trata-se da escritora e
roteirista Fernanda Young, sua mãe

“Mostrar meus desenhos
a ela foi grande parte
do motivo pelo qual
comecei a desenhar.
A sua opinião sempre
foi a mais importante
e definitivamente há
momentos em que me sinto
perdida sem ela”, diz

“Ainda assim, toda a
sua existência e passagem
pelo planeta Terra me
inspiram a fazer algo
significativo. Acho
que ainda posso deixá-la
orgulhosa, de uma forma
cósmica e mental e
mágica e maluca”

Fernanda Young morreu em
2019, vítima de uma crise
de asma seguida de parada
cardíaca. O acontecimento,
de certa forma, impactou
nos desenhos de Estela.
“Eles provavelmente ficaram
mais melancólicos”

“Sempre foram um pouco
existencialistas, mas
no começo eu me esforcei
para torná-los edificantes.
Agora, quando me sinto
triste, não deixo de
demonstrar isso.
E tem sido uma época
muito triste”

Quando diz que o momento é
triste, Estela não se refere
somente à morte de sua mãe.
A pandemia também agregou um
leve ar sombrio a seus desenhos

“É tudo tão chocante,
aterrorizante, solitário
e terrível. Aposto que
os quadrinhos ficaram
realmente loucos por um
tempo. Eu tenho estado
um pouco louca”, conta

Em tempos de isolamento
e incertezas, o desenho
é a principal forma de
expressão e escape para
Estela. Ao contrário de sua
mãe, a comunicação escrita
e verbal não são o seu forte

“Sou péssima em falar
cara a cara. Tem sido
especialmente difícil
ultimamente, tornei-me
muito boa em apenas
resmungar. É reconfortante
saber que posso tentar me
expressar desenhando”

Expressando-se assim, através dos traços,
Estela fez uma de suas
tatuagens quando tinha 17
anos. “São dois dadinhos
num traço bem fininho,
o que faz parecer que os
desenhei a caneta na pele”

Essa forma de expressão
que começou nas aulas
chatas da escola e virou
profissão, Estela pretende
levar adiante por um bom
tempo. “Eu definitivamente
gostaria de continuar
com o desenho”, diz

“Espero melhorar cada
vez mais, mas também
quero tentar outras coisas.
Existem tantas maneiras
interessantes e inéditas
de se expressar. Gostaria
de fazer muitas coisas.
Voar seria legal”

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