Um dos nomes mais importantes do rap nacional, o homenageado do prêmio Trip Transformadores 20/21 amplifica discussões sociais urgentes e preza sempre pelo diálogo
“As estruturas de opressão sob as quais cresci me fizeram não criar muita expectativa. Achava que ia viver muito pouco, que não passaria dos 18”, conta Leandro Roque de Oliveira, o Emicida
Felizmente, o futuro foi diferente para o jovem garoto nascido na periferia da zona norte de São Paulo, que ficou conhecido pela sua rapidez de raciocínio e rima em batalhas de freestyle
“A cultura hip hop, como um todo, me fez perceber que as coisas pelas quais eu passava não eram problemas pessoais, eram questões estruturais de uma sociedade contraditória e desigual”
Desde 2009, quando lançou sua primeira mixtape, Emicida quebra barreiras não só no rap, mas em todos os ambientes que ocupa, criando espaço para mais referências negras na cultura pop
“Fico feliz que crianças com a minha origem vão olhar no espelho e sentir que podem almejar serem reconhecidas, pois outras pessoas parecidas com elas mostram que é possível”
Além da carreira na música, o rapper fundou junto com o irmão, Evandro Fióti, a Lab Fantasma, hub de entretenimento que é gravadora, canal de TV, loja de roupas, entre outros tantos projetos
Com a empresa, ele ajuda a alavancar a carreira de outros nomes do rap nacional, como Rael e Drik Barbosa. “Foram poucos os artistas, como os Racionais MC's, que me estenderam a mão no começo”, diz
“Ali, eles me mostraram o que eu posso e quero fazer pelo movimento cultural que eu amo. A coletividade é uma característica da cultura hip hop”
2019
Emicida lançou o álbum AmarElo, que levou o rap ao palco do Theatro Municipal de São Paulo. Com participações como Pabllo Vittar e Fernanda Montenegro, o projeto tem uma potente diversidade de olhares
“Busco sempre ver o mundo pelo máximo de perspectivas possíveis. Assim, como artista, consigo lutar para corrigir algumas grandes contradições que a cultura hip hop produziu em sua evolução”
2020
Em março, Emicida lançou uma nova fase do projeto, a ação multiplataforma “AmarElo Prisma”, que conta com webséries, podcasts, vídeos e textos nas redes sociais
O objetivo é promover discussões focadas em transformação pessoal, autocuidado e saúde mental, questões fundamentais principalmente nos tempos de coronavírus
“O prisma foi a forma que chegamos de destrinchar as camadas emocionais do disco. Queremos nos concentrar na manutenção de um estado de espírito positivo, de fé, amor e construção”, diz
O projeto quer promover o respeito à pluralidade de pensamentos e o incentivo ao debate, ideias que sempre foram uma marca de Emicida
“É triste que a maioria das pessoas se acomoda em falar pra quem concorda e não pra quem precisa. E infelizmente, devido ao ambiente das redes sociais, o diálogo vai ficando cada vez mais difícil”
“Se eu acredito no que eu falo, tenho que falar pra quem pensa diferente. No final, quem troca ideia sempre vai embora com duas. Esse é meu lema”, diz o rapper
Pai de duas meninas, Estela e Teresa, Emicida também já se aventurou no mundo literário. Ele publicou dois livros infantis: “Amoras” e “E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas”
“Desde o nascimento da minha primeira filha, minha forma de ver o mundo não é a mesma. Acho que não tem nada que chegue perto do que é a paternidade. É a responsa das responsas”, diz
Ao ser questionado sobre o que deseja conquistar no futuro, Emicida não pensa em nada no âmbito pessoal. Já coletivamente, ele quer ser útil para a construção de um mundo melhor
“Eu quero salvar a Amazônia. Quero que a gente construa uma sociedade que justifique a abolição da escravatura e não uma que nos faça questionar se ela foi abolida mesmo”
“Eu quero que minhas filhas, e todas as garotas, cresçam sem medo dos homens e acreditando que podem ser o que elas quiserem ser. Tudo isso é urgente e possível”
“Não conseguimos controlar a realidade, mas podemos ter algum controle sobre nossa forma de percebê-la. E isso nos dá vantagem no momento de reagir a ela”
Gente que acredita que só vai ficar bom de verdade quando estiver bom para todo mundo