Edu Lyra

Criador da ONG Gerando Falcões,
que viabiliza projetos de
impacto social em favelas do
Brasil todo, o empreendedor
social homenageado pelo Trip
Transformadores 20/21 quer que
a miséria vire coisa de museu

Por: Heitor Flumian
Imagens: arquivo pessoal/ divulgação

Nascido em um barraco de chão
de terra batida em uma favela
de Guarulhos (SP), Edu Lyra
dedica sua vida a construir
pontes de oportunidades entre
a periferia e o centro

Em 2014, foi nomeado pelo Fórum
Econômico Mundial como um dos 15
jovens brasileiros que podem melhorar
mundo. Em 2018, figurou na lista
da revista Forbes como um dos 30
jovens mais influentes do país

“A minha história é uma
história de exceção. Então, ela
tem que fazer com que outras
pessoas tenham o suporte
necessário para conseguir
mudar de vida e sofram
menos para chegar lá”

Ainda criança, Edu viu o pai,
usuário de drogas, ser preso
por roubo a banco. Isso o levou
a visitar bastante o presídio
e fez com que suas memórias
de infância ficassem marcadas
por dor e violência

As lembranças boas remetem
ao imenso amor de sua mãe.
“Ela olhava todo dia nos meus
olhos e dizia: ‘Não importa da
onde você vem, o que importa
é para onde você vai. E você
pode ir para onde quiser’”

Edu sempre gostou de gente
e de ouvir as histórias que
tinham para contar. “Meu
pai queria ser jornalista e
acabei realizando o sonho dele.
O encontro com as palavras
ajudou muito na minha missão”

2011

Durante o curso de jornalismo,
publicou de forma independente
“Jovens Falcões”, com depoimentos
de personalidades que saíram
de baixo e se tornaram bem-
sucedidas, como Felipe Neto
e o jogador Lucas Moura

Com a ajuda de amigos e indo de
porta em porta, em três meses vendeu
cinco mil exemplares. No ano seguinte,
uma editora relançou o livro com
prefácio de Marcelo Tas e contracapa
de Nizan Guanaes

Depois de rodar por escolas
públicas do estado de São Paulo
dando palestras motivacionais,
usou o dinheiro arrecadado com
o livro para criar, em 2013,
a ONG Gerando Falcões

Com sede na cidade Poá, na Grande
São Paulo, o projeto começou
promovendo, em parceria com escolas
públicas da região, aulas de rap,
funk, skate, futsal e tênis para
crianças e adolescentes

Com o tempo, ofereceram aulas
de boxe, pintura, teatro e dança.
Jovens e adultos também passaram
a ser beneficiados com cursos
de capacitação profissional,
incluindo egressos do sistema
penitenciário

“Eu me incomodava muito em ver
tantos amigos e outros jovens
indo para o crime. Faltava um
modelo, referências. É que
ser bandido em um ambiente
de pobreza extrema é,
de fato, uma opção”

“Eu queria provar para
o jovem da favela que
existem outras opções, como
ser programador, designer,
fotógrafo ou empreendedor e
transformar a sua realidade
e, como consequência,
a vida das pessoas”

Edu atraiu investimentos importantes
de empresários como Patrícia e
Ricardo Villela Marino (Banco Itaú),
Flávio Augusto da Silva (Wise Up)
e Jorge Paulo Lemann (AB inBev),
de quem se tornou amigo

Em 2016, Lemann o enviou
para fazer um curso de
liderança em Harvard, nos
EUA. “Ele me encorajou a ir
além da minha favela e montar
redes que pudessem acelerar
e desenvolver outras”

O Gerando Falcões leva para
ONGs de outras favelas seu
modelo de gestão inspirado nos
mecanismos de administração da
Ambev, com metas, indicadores
de performance e plano de
carreira para colaborador

Em 2019, nasceu a Falcons
University, iniciativa que busca
formar líderes e empreendedores
sociais nas favelas capazes de
transformar esses territórios – mais
de 50 pessoas já foram capacitadas

2020

Na pandemia, lançou a campanha
“Corona no Paredão, Fome Não”.
Por meio de uma plataforma
digital, doações em dinheiro
são convertidas em cestas
básicas e distribuídas
por ONGs locais

Mais de 25 milhões de reais
foram mobilizados e alimentaram
quase 500 mil pessoas em cerca
de 300 favelas de todas as
regiões do Brasil

“Nós queremos acelerar a ida
da miséria ao museu, para que
ela exista apenas no passado.
Acreditamos que só dá para
fazer isso por meio do trabalho
de pessoas bem treinadas e com
recursos necessários”

“As pessoas precisam entender
que, se transformarmos
as favelas, a maioria
dos problemas do país
serão resolvidos. Esse
é o nosso hexa”

Gente que acredita
que só vai ficar bom de
verdade quando estiver
bom para todo mundo