O fotógrafo baiano traz em seus trabalhos uma representação positiva dos corpos pretos, mostrando suas belezas e provocando discussões
Nascido na periferia de Salvador, Edgar Azevedo começou a fotografar aos 13 anos, aprendendo sozinho todas as técnicas, e não parou mais
“Minha mãe não é fotógrafa, mas gostava de documentar tudo: passeios, festas e eventos de família. Ela é uma das minhas maiores referências”, conta
O baiano fotografou casamentos, aniversários, depois mergulhou no universo da moda, até entender o caminho que queria seguir
“Percebi que a moda não era mais o primeiro plano da minha fotografia. O que eu queria mesmo era contar a história daquele retrato, de forma documental, lúdica, artística”
Para Edgar, vivemos em uma sociedade que tem representatividade negra nos campos visuais, mas ela está quase sempre ligada à miséria. E é isso que ele deseja mudar
“Meu trabalho de vida é fotografar e retratar a pele negra em todas as suas cores e paletas. Quero trazer essa representatividade positiva, essa reconstrução de autoestima”
ìfé / #marginalmag
“Vou fomentar essa beleza para que ela seja aceita pelas próprias pessoas que a carregam”
Diz ele, que já desenvolveu trabalhos para marcas de destaque tanto nacionais quanto internacionais
Apesar da maior abertura das empresas, Edgar acredita que ainda existem algumas conquistas a se alcançar, como ver equipes compostas majoritariamente de pessoas negras
“Por muito tempo tudo me fazia acreditar que meu trabalho era muito agressivo, extremista. Eu venho de um lugar em que a vida não dá tantas oportunidades de acreditar, e mesmo assim eu acreditei”
“Sempre tive convicção que meu trabalho era algo maior, em prol do que eu acreditava. Nunca esperei ter retorno, sempre fiz por amor, mas estou gostando muito das possibilidades que têm se aberto”
Origens / REZA
Um dos principais projetos de Edgar é a Marginal Mag, uma revista online – que está migrando para uma comunidade nas redes sociais – com o objetivo de mostrar a pluralidade da masculinidade negra
LOKE WOLF / #MARGINALMAG
“É um espaço para publicar trabalhos que falem sobre a subjetividade dos homens pretos. É uma vitrine das coisas que a nossa comunidade cria, seja pela arte, pela moda, pela escrita, pela música”, explica
“O homem já é um problema, ele não se comunica. Conseguir trazer esse homem pelo gancho visual e abrir discussões sobre o assunto é super importante para diminuir a masculinidade tóxica”
Allesí / #MARGINALMAG
O projeto toca o baiano de forma intensa, já que atravessa muitas de suas experiências pessoais. "Eu falo do lugar de um homem preto e gay que ainda reproduz muitas dessas toxinas"
“É imprescindível nos humanizar, nos desobjetificar, nos deshipersexualizar. Quebrar esses estigmas, ressignificar esses estereótipos. É para isso que meu trabalho está aqui”