dicionário
da favela,
Geovani Martins

Nascido em Bangu e morador
do Vidigal, o escritor de
“O Sol na Cabeça” explica
de onde vem o vocabulário
que conquistou o mercado
editorial brasileiro

“Melado é sangue.
Caxanga é casa.
Tá de meméia é você
estar meio de frescura.
Chá de burro é maconha ruim.
Maçarico é o sol,
muito quente, né?”

“Na zona norte se fala de um
jeito, na zona oeste se fala
de outro, na zona sul se fala
de outro… Na favela de tal
facção se fala de um jeito,
na da outra facção se fala
do outro. São outras gírias,
são outros modos de falar,
outras construções de frase”

“Eu tinha todas as informações
já, da vida. Fui buscar um
jeito de transformar isso
em literatura”

“Eu não me incomodo de ser
chamado de escritor favelado,
mas eu me incomodo um pouco
com isso estar sendo sempre
lembrado só para alguns tipos
de escritores, normalmente
os de minoria”

“‘Ah, literatura feminina,
literatura homossexual,
literatura negra…’ E parece
que a literatura branca
é universal, né?”

“É uma turma grande de
intelectuais na favela, não
só escritores, mas pessoas
que trabalham com pensamento
e tal. Muitos primeiros
universitários, primeiros
formandos, primeiros artistas
da família surgindo agora”

“A partir de uma situação
mais confortável que a gente
teve pra viver nos anos 2000,
assim. Minha mãe começou
a trabalhar com 9 anos.
Eu pude começar com 16”

“Foi uma coisa que eu pensei
muito, nesse livro [O sol
na cabeça], dele poder ter
potencial de ganhar por duas
vias, tanto do estranhamento
como da identificação”

“Eu sou meio para-raios
de maluco também. Quando
eu tô parado em algum lugar
sozinho, sempre para alguém
pra conversar comigo, pessoas
desconhecidas, e eu costumo
dar trela, sim, pra ver.
Não me incomodo se é
verdade ou se é mentira”

“Gosto de ouvir a história
e saber se ela foi bem
contada. E, sei lá, guardo
em algum lugar”

PRODUÇÃO E ENTREVISTA: Nathalia Zaccaro

IMAGENS: Nathália Cariatti

EDIÇÃO: Dani De Lamare
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