O artista plástico e ativista saiu de sua aldeia à beira do Rio Negro para espalhar a arte e a memória indígena mundo afora
Por: Denise Meira do Amaral Foto: Arquivo Pessoal
Denilson Baniwa
Uma tatuagem com a palavra “respire”, em sua mão direita, é um lembrete diário para Denilson Baniwa manter a sanidade em meio ao caos
As crises de ansiedade começaram após o artista plástico ter saído da aldeia Darí, à beira do Rio Negro, no Amazonas, para morar no Rio de Janeiro, em 2010
“Não é fácil viver na cidade. Primeiro, criam cercas para afastar os animais selvagens, depois, para afastar as pessoas de outras pessoas ”, diz
“Não querem contato com gente assim como não querem contato com a natureza. Esquecem que somos parte dela”
Denilson viu a situação se agravar com a pandemia. “Perdi muitos amigos e mestres do meu povo pela Covid”, diz. "Foi um atropelamento de lutos. E não conseguimos prestar nossos rituais da maneira correta”
“O que mais causou mortes foi o descaso do governo, principalmente em relação às populações mais vulneráveis, como indígenas, mulheres, negros... Somos constantemente vítimas de violências”
Denilson se tornou conhecido por seu ativismo político, enfrentando grileiros, posseiros e garimpeiros
Ele também chamou a atenção com performances como o “Pajé-Onça caçando na avenida Paulista”, em que vestiu uma capa e máscara de onça e circulou por São Paulo com uma flecha gigante
Denilson já expôs no CCBB, no Itaú Cultural, no Masp, em São Paulo, no MAR, no Rio de Janeiro, e também em países como Austrália, Suíça, Peru e Inglaterra
O artista faz parte da primeira geração indígena inserida no mainstream dos circuitos de exposições mundo afora
“A arte indígena sempre conta uma história. É um modo de guardar nossa memória, como se fosse um banco de dados ”, afirma
“Ela está ligada a metafísica, às coisas que não conseguimos ver. E a gente vive em um mundo, infelizmente, que a espiritualidade não é importante”
Em 2020, dois anos após o incêndio do Museu Nacional do RJ, que queimou grande parte do acervo da etnia Baniwa, Denilson criou a obra viva “Nada que é Dourado Permanece”
O jardim, plantado entre as pedras do estacionamento da Pinacoteca de São Paulo, reflete sobre o ciclo de vida do plantio. “Na natureza, tudo que nasce é dourado e depois vai ficando verde e marrom”
A obra também é uma homenagem às vítimas da Covid e aos indígenas vítimas do processo de colonização do Brasil
“É uma metáfora. Mesmo que tudo seja contra a nossa existência, continuamos lutando nesse ambiente árido, com sol quente, com a falta de água, de oportunidade...”, diz
“Crescendo e multiplicando, tentando encontrar novas frestas entre essas paredes da colonização e das violências”