Na pandemia, o fotógrafo Lucca Messer registrou como a falta de acessibilidade e políticas públicas mantém as pessoas com deficiência isoladas desde muito antes da Covid-19
Textos, fotos e vídeo: Lucca Messer
Deficiência na periferia: o isolamento continua
“O peso da invisibilidade e a negação de direitos às pessoas com deficiência persistem”, diz Suely Rezende, moradora do bairro Chácara Seis de Outubro, em São Paulo
“O cenário de isolamento da pandemia só reforçou que as pessoas com deficiência já Viviam isoladas – pelas desigualdades, por ausência de políticas públicas e nos diversos tipos de acessibilidade”
“Eu estou acostumada a ficar em casa por conta da minha deficiência e da falta de acessibilidade”, conta Renata Viana da Silva, que vive no Morro do Índio, em São Paulo
“Em meio aos medos e fragilidades, aprendemos duramente a valorizar as coisas simples, amar e viver intensamente... Sem deixar nada para amanhã!”
“O vírus escancarou as diferenças sociais, raciais, de gênero, etarismo e tantas outras discriminações correlatas”, diz Mona Rikumbi, que vive no bairro Cidade Ademar, na capital paulista
“A cada dia os vulneráveis estão mais vulneráveis. Os destituídos estão onde sempre estiveram: em constante distanciamento social. Sem acesso”
“Tenho paralisia cerebral, uma deficiência de nascença que comprometeu meus membros, mas não houve comprometimento cognitivo”, conta Cleberson CasaGrande Ferraz, morador do Jardim Cidade Pirituba
“Sou ciclista, amo pedalar, faço parte de um grupo de ciclistas e também aula de teatro e de dança. Na quarentena, aprendi a ser mais caseiro e também a ser mais compreensivo”
Para Nilda Martins, que vive no Jardim Irapiranga, na cidade de São Paulo, a pandemia é uma velha conhecida e o coronavírus a fez refletir sobre o preconceito contra o qual lutou sua vida toda
“A ‘pandemia de antigamente’, aquela que sempre existiu, foi e continua sendo difícil porque já éramos pretas e cadeirantes e tínhamos que ser muito fortes para conseguirmos alguma coisa”
“As leis e as políticas não estão do nosso lado”, diz Fabiana dos Santos, moradora do Jardim Adutora, em São Paulo
“Precisamos de um braço direito para implantar melhorias físicas para nós, deficientes, termos maior autonomia e intensificar as leis para nos beneficiar”
“Para nós, pessoas com deficiência, que já vivíamos em isolamento, a pandemia dificultou ainda mais as nossas vidas”, diz Ana Maria Norberto, que vive no bairro da Chácara Santa Maria, em São Paulo
“Eu fiquei tetraplégica aos 40 anos e aos poucos fui descobrindo que poderia sair pra dançar, ir ao teatro... Mas como que eu iria sair em uma cadeira de rodas sendo que onde moro é longe de tudo?”
“Primeiro veio o desespero, depois veio o desafio de colocar uma máscara. Imagina eu, com paralisia cerebral, cheia de movimentos involuntários, é uma comédia!”, conta Frydda Emanuelly
Moradora de Vila Missionária, São Paulo, ela acredita que precisamos resgatar nossa humanidade.
“Quando percebermos o quanto isso é importante veremos que a maioria dos problemas do mundo têm solução”