Fotografias amadoras revelam
um outro lado da história
oficial do exército alemão
durante a Segunda Guerra

Por: Renata Martins
Imagens: divulgação

Crossdressing
nas Forças
Armadas nazistas

Com vestidos, bustiês,
sutiãs com enchimento
e maquiagem, homens
travestidos de mulheres
posam para câmeras amadoras
em fotografias em preto
e branco

Ao examiná-las detalhadamente,
é possível ver o emblema nazista
no uniforme de um dos atores ou
até mesmo o símbolo da suástica
ao fundo em um dos cenários

No exército de um regime
que perseguia, punia e até
assassinava homossexuais,
havia soldados nazistas
em abraços íntimos com
outros camaradas travestidos
de mulheres

As fotografias históricas desse
fenômeno oculto nos registros
oficiais foram reunidas por Martin
Dammann no livro “Soldier Studies:
Cross-dressing nas Forças Armadas”,
publicado em 2019

“A primeira foto
crossdressing de um soldado
alemão que vi considerei
como algo louco, uma
exceção. Mas ficou claro
que foi um fenômeno comum
e ilustra uma parte
desconhecida da Segunda
Guerra”, diz o autor

O que as lentes oficiais
decidiram não registrar
para não arranhar a imagem
do regime, as amadoras
capturaram e agora revelam
uma nova narrativa sobre as
relações entre os soldados

As fotos reunidas no livro
foram tiradas em encenações
teatrais organizadas pelas
próprias tropas em seu
momento de lazer e retratam
muito mais que um simples
exercício jocoso

“Todo um caleidoscópio
de estados emocionais é
encontrado nessas fotos:
desejos por mulheres, por
homens, por ser mulher,
de estar em outro lugar,
de ser outra pessoa”,
diz Dammann

“Parecem ficar de lado,
ainda que por momentos
curtos, medos não somente
do próprio e incerto
destino, mas também medos
e convenções sociais”

O crossdressing não foi
uma prática exclusiva
das tropas nazistas:
“O fenômeno de soldados
que se exibem com roupas
de mulher é encontrado
em registros fotográficos
de todas as nações
e conflitos”

Um regime autoritário
ou exterminador pode até
conseguir reprimir por um
tempo as paixões humanas,
mas não consegue eliminar
a sua essência

Pode tardar o tempo que
for, mas haverá sempre
outra versão da narrativa
da “história oficial” a ser
contada por olhares amadores.
Elas resistem e vêm à tona

Depois de quase 80 anos,
o livro revela um lado B da
história oficial do período
e traça ligações com o nosso
tempo. Nenhum mito é indestrutível
e a história não perdoa

Conteúdo que transforma

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