“Chegou dezembro, pode descongelar o Roberto”. Essa frase, usada em tom de brincadeira há um bocado de tempo, significa que mais um ano está chegando ao fim
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É uma época de tradição: participar da reunião familiar anual para alguns, ouvir a piada do pavê para outros e ver o especial do Rei na TV Globo no sofá da casa da avó para milhões de brasileiros
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Em 2021, o show televisivo marcado para o dia 22 de dezembro ganha uma versão inédita (ou nem tanto, para alguns) depois de dois anos de reprises, com participações de Erasmo Carlos, Wanderléa e Zeca Pagodinho
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O biógrafo Paulo Cesar de Araújo, autor do livro “Roberto Carlos Outra Vez”, explica que o Rei ficou ligado às festas de fim de ano depois de estourar com “Quero que vá tudo pro inferno”, em 1965
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Desde então, tornou-se uma tradição para Roberto lançar um álbum por ano, sempre perto do Natal, para impulsionar as vendas nessa época de troca de presentes
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Quando o primeiro especial com o Rei foi transmitido na Globo, em 1974, ele era um dos artistas mais populares do país. E foi naqueles shows que Roberto explorou sua criatividade audiovisual nas duas décadas seguintes
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Mas a pecha de cantor de fim ano só deu as caras mesmo a partir de 1997, quando as superproduções viraram um show repetitivo e, coincidentemente, Roberto Carlos deixou de gravar seu disco anual
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“Antes, os especiais eram especiais de verdade, com produção arrojada, externas e roteiro. Não eram apenas uma apresentação com dois ou três convidados que começa com ‘Emoções’ e termina com ‘Jesus Cristo’”, conta Paulo Cesar
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Para o escritor, o Rei protagonizou “momentos históricos na televisão”, como em 1977, quando reuniu futebol, tango e músicos como Wilson das Neves e Lincoln Olivetti, antecipando a Copa do Mundo de 78
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Paulo Cesar de Araújo também relaciona a fase artística menos criativa de Roberto à descoberta do TOC, transtorno caracterizado por pensamentos insistentes e rituais repetitivos
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Na década de 90, o artista, já maduro, adota essencialmente o figurino azul e branco e se torna católico fervoroso, cantando mais e mais temas para Jesus Cristo e Nossa Senhora
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O resultado disso é que o público mais jovem vê Roberto Carlos, o artista brasileiro que mais vendeu discos, como um meme, o cantor a ser descongelado em dezembro
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“Eles não conhecem sua música e sua história, apenas as mesmas músicas de fim de ano”, diz Paulo Cesar
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Os números de audiência mostram mesmo que o público pode estar cansado de ver poucas novidades do Rei. Em 2019, o especial de fim de ano marcou menos de 20 pontos pela primeira vez na história
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Além de se tornar uma espécie de caricatura, a pessoa de Roberto Carlos não é lá muito querida pelos mais novos, muito por suas opiniões conservadoras e pela rivalidade criada na internet com Tim Maia
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Entretanto, Paulo Cesar de Araújo não acredita que essas piadas possam criar algum tipo de apagamento histórico da obra do Rei, problema muito caro a muitos cantores e cantoras brasileiras
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“como a televisão tem uma presença muito forte no brasil, É claro que essa fase de ‘maníaco da repetição’ dá margem a memes. mas TUDO ISSO PASSA, O QUE FICAM SÃO AS MÚSICAS DE ROBERTO"