“Quando vejo o Djonga colocando
seus parentes para trabalhar com
ele ou o Junior Caldeirão levando
a família para passear de lancha,
eu me pergunto se quando for minha
vez, ou quando eu conseguir trazer
meus privilégios pra minha família,
essa síndrome do impostor
vai desaparecer”
Por Bertuani (@max.bertuani)
ME SINTO
UM IMPOSTOR
“Me sinto um impostor por
morar sozinho. Tenho síndrome
do impostor porque fui nascido
e criado em uma família preta
com a cultura do trabalho.
Minha vó só conhecia o trabalho,
meus pais só conheciam o trabalho
e tudo era o trabalho.
Mas na minha geração
isso começou a mudar”
“Fui o primeiro a sair de casa.
Com 21 anos moro sozinho
há um ano, consigo comprar
minhas coisas, ir ao mercado,
preparar uma carne, tenho minha
bicicleta, tenho vinho no meu
armário, tenho manteiga de verdade
na geladeira e, no fim de semana,
consigo comprar no iFood
sem ter peso na consciência”
“Quem é criado só com o básico
sabe do que estou falando e sabe
o que esse tipo de coisa significa.
Mas faço tudo isso com
a síndrome do impostor na minha
cabeça, porque minha família
não consegue experimentar isso
— e isso me deixa muito chateado”
“O coração preto fica feliz
quando vejo o Djonga
conseguindo colocar a família
toda pra trabalhar com ele,
quando o Junior Caldeirão
leva todos os parentes
pra passear de lancha”
“Quando vejo essas coisas,
falo ‘isso é coisa de preto’
e me pergunto ‘quando vai ser
minha vez’ e se quando for minha
vez, se quando eu conseguir
trazer esses privilégios
pra minha família, essa síndrome
do impostor vai desaparecer”