Dona do Pula Muralha, maior canal brasileiro sobre a cultura da China, Si Liao quer desconstruir os estereótipos e os preconceitos contra o país onde nasceu
Em 2011, depois concluir um mestrado em língua chinesa para estrangeiros, Si Liao deixou a metrópole de Wuhan para passar dez meses no Brasil ensinando mandarim
“Vi como uma oportunidade de aprender um novo idioma e ir para um país tão longe que eu nem sabia exatamente onde ficava”, lembra Sisi, como é conhecida por aqui
Os dez meses no Brasil se transformaram em dez anos – de aprendizados, novas experiências, conquistas e (muitos) choques culturais, da culinária aos relacionamentos
Logo que chegou Sisi conheceu, na sala de aula, o jornalista brasileiro Lucas Brand, hoje seu marido. Foi ele quem deu a ideia de criarem um canal no YouTube, ainda em 2014
“Não existe YouTube na China, então eu nem sabia direito o que era. Gravei um vídeo para o casamento de uma amiga chinesa e, quando mostrei para o Lucas, ele disse que deveria fazer um canal”, conta
Foi assim que surgiu o Pula Muralha, que acumula mais de 700 mil inscritos com vídeos sobre curiosidades da cultura chinesa – na maioria das vezes, Lucas atua por trás das câmeras e Sisi à frente
“Depois desses anos, percebo como as pessoas que acompanham o canal têm um conhecimento muito mais aprofundado e menos estereotipado sobre a China, e isso me deixa muito feliz”, diz Sisi
Em 2016, Sisi também desenvolveu a Ed Tech Pula Muralha, a maior escola brasileira de chinês online. Por meio de aulas gravadas, ela ensina mandarim a alunos de 12 a 77 anos
No fim de 2019, quando os primeiros casos de Covid-19 surgiram na China, Sisi deu uma pausa nos vídeos culturais para produzir uma série de conteúdos falando sobre o vírus
“Eu tinha acesso direto às informações e podia explicar um pouco como estava a situação por lá, além de desmistificar muitas das fake news que estavam rodando por aí”
“Fazia live toda semana com os meus pais e amigos para que eles falassem de suas experiências. Mas não imaginava que o vírus iria chegar no Brasil”, diz a chinesa, natural da cidade de Yuè Yáng
Enquanto a pandemia se espalhava pelo mundo, foi surgindo uma verdadeira onda de ataques xenofóbicos contra pessoas asiáticas. No Brasil – e com Sisi – não foi diferente
Em 2020, quando o vírus chegou ao país, comentários como “Volte para a China tomar sopa de morcego!” e “Culpa de vocês, agora vão sofrer as consequências” invadiram os vídeos de seu canal
Para combater os ataques racistas, Sisi lançou a campanha virtual #EuNãoSouUmVírus, que tinha como objetivo afirmar sua existência e mandar mensagens de apoio a outros chineses
“Ainda existem e sempre vão existir pessoas ignorantes e que não querem aprender, mas os ataques diminuíram. Depois de uma pausa necessária, quero voltar a informar as pessoas”, afirma Sisi
“Quanto mais alguém tem conhecimento sobre um país, menos preconceito vai ter. Existe um público muito grande que está disposto a saber mais sobre a China, então vamos falar com ele”