Celso Athayde

Por: Heitor Flumian
Imagens: arquivo pessoal/ divulgação

Homenageado no prêmio
Trip Transformadores 20/21,
o ativista e empresário comanda
o Favela Holding, conjunto
de empresas que impulsiona o
desenvolvimento de negócios e
de profissionais nas favelas

Quando o tema é favela,
empreendedorismo e consciência
social, Celso Athayde é uma
das principais referências
do Brasil

Foto: Luiz Maximiano/ Trip

Desde 2013, ele está à frente
do Favela Holding, a primeira
holding social do planeta,
que reúne mais de 20 empresas
focadas em desenvolver
negócios sociais em favelas

“Nossa holding é social
porque os negócios têm como
objetivo o desenvolvimento
econômico dos territórios,
o desenvolvimento de seus
habitantes, a geração de
riqueza e a distribuição
de renda”, diz

“A grande novidade é
que o morador da favela
é sócio: além de consumir,
ele faz a gestão do que
consome. Ele deixa de ser um
camundongo em um laboratório
examinado por um cientista
e vira cientista também”

Como exemplo, cita as empresas
Alô Social, operadora de
telefonia de baixo custo
que democratiza o acesso à
internet, e o Digital Favela,
plataforma que aposta em
microinfluenciadores das
comunidades 

Sua visão social e lucidez já
o levaram a dar palestras em
universidades como Harvard e MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos. Tudo isso sem ter se formado

Foto: Luiz Maximiano/ Trip

“O meu mestrado foi feito
na favela, na rua, como
camelô. E o que eu conheço
de favela aprendi nela, com
os favelados. É por isso que
não digo pessoas carentes.
Prefiro pessoas potentes”

“Quando você pega um porteiro
que ganha um salário mínimo,
um vigia, uma mulher
empacotadora de supermercado
ou um frentista de posto
de gasolina que mora numa
favela, eles são carentes
por quê?”

“Eles podem ter baixa renda,
que não tem nenhuma relação
com carência. Os filhos
dessas pessoas estudam,
trabalham, produzem. Se
eles fossem carentes era
o Estado que estava
alimentando eles”

Celso nasceu em Nilópolis,
na baixada fluminense, viveu
na rua por seis anos e em um
abrigo público outros dois. Foi
trabalhando como camelô no Rio de
Janeiro que conheceu o hip hop

Idealizou o Festival Hutúz,
que por anos foi o principal
evento do gênero no país,
e trabalhou com os Racionais
MC's e com o rapper MV Bill,
com quem fundou a CUFA -
Central Única das Favelas

Com mais de 20 anos de existência,
a CUFA é uma organização que promove
projetos culturais, artísticos,
esportivos, educacionais e de
responsabilidade social em
territórios de favela e periferia

Com sede no Rio de Janeiro,
está presente em cinco mil
favelas em mais de 450 cidades
espalhadas pelo Brasil.
A organização tem bases em
outros 17 países, como Nigéria,
Haiti e Estados Unidos

2020

Diante da pandemia, a CUFA
lançou o programa “Mães da
Favela”, que já alcançou 5
milhões de pessoas levando
renda, alimentos e outros
itens para as mães moradoras
desses territórios

Foto: Luiz Maximiano/ Trip

“Sabíamos que as favelas
seriam as maiores prejudicadas
e tínhamos duas opções: ir pra
casa, como era a orientação,
ou ajudar a conectar as
empresas parceiras à solução
dos problemas que
enfrentaríamos”

“50% dos que moram nas
favelas são trabalhadores
autônomos ou informais.
Então, apesar de mobilizarem
R$ 119 bilhões por ano,
não têm recursos para mais
de 15 dias pois consomem
tudo o que produzem”

“A maior crise que
a favela pode viver não é
esta, é a de perspectiva.
Quando não se acredita em
mais nada, resta o caos.
O desafio foi informar as
pessoas que o pior ia passar”

Outro desafio foi convencer os
empreendedores a, além de doar
alimentos, fazer transferência
de renda para que pudessem manter
de pé os comércios e a base do
ecossistema seguisse funcionando

Foto: Luiz Maximiano/ Trip

“A favela tem que ser
protagonista. Ela só vai ser
ouvida quando não precisar
mais ser ouvida, quando
a fala for dela. Isso só
será possível se colocarmos
nossos nomes à disposição
para serem votados”

Gente que acredita que só vai ficar bom de verdade quando estiver bom para todo mundo