Por: Fernanda Nascimento Foto: João Kehl/ Revista Cult
Homenageado pelo Trip Transformadores 20/21, o escritor e líder indígena fez da sua história de violências uma experiência de expansão
Ailton Krenak passou os primeiros 17 anos de sua vida fugindo
Foto: João Kehl/ Revista Cult
Logo depois que ele nasceu, no início da década de 50, seu povo foi expulso por fazendeiros do próprio território, no Médio Rio Doce, em Minas Gerais
Foto: Gustavo Rubio/ ISA
“Acho que muito cedo eu escapei da perspectiva individualista porque tinha que seguir os outros. Até para me salvar”, conta. “E, quando eu finalmente pude parar de fugir, consegui refletir”
“Eu tive que processar essa experiência de trauma de ser não-aceito, dessa guerra contra o meu povo. Isso me deixava num dilema se eu tinha algo a trocar com esses brancos”
“Tem um risco muito grande de você cair numa marca racista, uma espécie de contramão de uma coisa que você denuncia, e ficar do lado de dentro acusando os outros”
Ao invés de ressentir a violência que sofreu desde tão cedo, Krenak diz ter transformado a dor em uma experiência de expansão – “expansão da subjetividade, das poéticas de existir”
Aos 33 anos, ele foi um dos responsáveis por garantir os direitos dos indígenas na Constituição de 1988 depois de pintar seu rosto na tribuna em um protesto histórico. “Aquele gesto foi decisivo”, diz
Imagens: Assembléia Nacional Constituinte/ reprodução
Os botocudos – como também são chamados os krenak – recuperaram seu território na década de 90, mas o alerta de Krenak para a destruição do meio ambiente em nome do desenvolvimento seguiu ressoando
Foto: João Kehl/ Revista Cult
“A nossa história se repete tragicamente destruindo os outros seres”, diz. “E vai ficando um homem cada vez mais convencido de que pode dominar o mundo”
“A gente precisa aprender a envolver-se com a Terra, com as nossas florestas, montanhas. E não com o interesse privado de ser dono daquele rio. Ir além disso, escapar à lógica ocidental antropocêntrica”
Foto: reprodução
Ainda que sua voz já gritasse alto, na pandemia todos pararam para ouvir Ailton Krenak. Seu livro, “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, figurou entre os mais vendidos de 2020
Foto: reprodução
Escritor é apenas um dos predicados de Ailton Krenak. Ele também é líder indígena, ambientalista, jornalista, pensador, e tantas outras coisas que não cabem em títulos
Foto: Adriana Moura/ divulgação
“Eu tenho dificuldade de escolher em qual dessas atividades eu me encaixo porque eu também desenho, faço escultura, escrevo poemas, conto histórias, eventualmente faço um filme”, diz
“Eu tenho essa multitude de perspectiva de fazer coisas, de interagir com o mundo, que ao mesmo tempo me põe profundamente envolvido com o cotidiano da nossa aldeia na beira do rio Doce”
Ele vive com outras 130 famílias dentro do território dos krenak, uma reserva que segue sendo violentada – desde 2015, a área sofre as consequências da lama tóxica do desastre de Mariana (MG)
Foto: Murilo Santos/ ISA
Krenak não se considera otimista – “se você entrar nessa do otimismo o amanhã já foi para o mercado”, mas acredita que a humanidade ainda tem chance
Foto: Murilo Santos/ ISA
“As novas gerações estão desistindo da ideia de progresso como a única maneira de vida”, afirma. “Muitos estão interessados numa experiência não de desenvolvimento, mas de envolvimento”
Foto: Matthieu Jean Marie Lena/ ISA
“Se envolver com tudo, inclusive com a história, que nos trouxe até um momento de abismo, com um vírus ameaçando a humanidade”
“Se eu pudesse inspirar uma atitude global seria: pare e sonhe. Se nós tivermos coragem para sonhar é porque acreditamos que existem mundos, possibilidades”
Gente que acredita que só vai ficar bom de verdade quando estiver bom para todo mundo