Conheça a ATOMIK, criada por
cientistas a partir de frutas
cultivadas no solo radioativo
de Chernobyl – e que agora
tem o futuro ameaçado pela
invasão russa

Por: caio ferretti

A vodca
atômica de
Chernobyl

Você tomaria um shot de um
destilado feito de frutas
e grãos que crescem no solo
radioativo de Chernobyl? Um
grupo de cientistas tornou
esta possibilidade real

Assim nasceu a The
Chernobyl Spirit Company,
produtora da vodca ATOMIK,
que teve o primeiro lote
lançado em 2022

De acordo com os cientistas,
o processo de destilação
faz com que os frutos
ligeiramente radioativos
cultivados na zona do
acidente nuclear se
transformem em um produto
seguro para o consumo

Cientistas malucos,
alguns dirão. Nada disso.
O britânico Jim Smith e o
ucraniano Gennady Laptev,
responsáveis pelo projeto,
têm uma longa história
com a região onde um dos
reatores da usina nuclear
explodiu em 1986

A usina de Chernobyl
fica na cidade de Pripyat,
que fez parte da União
Soviética até 1991 e hoje
está localizada no território
da Ucrânia. A fronteira
com a Bielorrússia, país
vizinho, fica a menos
de 20 quilômetros

Laptev trabalhou ali como
“liquidador”, nome dado
às pessoas que foram à zona
logo após o acidente para
amenizar as consequências
da tragédia. Já Smith é
professor na Inglaterra
e estuda os impactos
ambientais da explosão
há mais de 30 anos

“Nesse período, aprendemos
que os riscos de radiação
a longo prazo são baixos
em quase todas as áreas,
mas os efeitos sociais e
econômicos são muito
sérios”, conta Smith

“Houve perda de terras
agrícolas e de investimento
nas áreas afetadas. Por
isso, queríamos fazer um
produto para mostrar
que algo positivo pode
vir dessas áreas e, assim,
ajudar na sua recuperação”

Ou seja, além de um
experimento científico,
a ATOMIK é um projeto social.
Originalmente, o plano era
doar 75% dos lucros das
vendas para a recuperação
das zonas afetadas, mas
alguns empecilhos foram
surgindo durante o caminho

O primeiro lote, com 1.500
garrafas, foi confiscado
pelas autoridades ucranianas
quando ia rumo ao Reino
Unido, onde seria vendido,
e ficou retido por meses

Quando o produto foi
liberado, aconteceu a
invasão russa à Ucrânia,
em fevereiro de 2022.
“Tivemos sorte de
conseguir mandar
para o Reino Unido um
lote de ATOMIK no mês
anterior”, conta Smith

As garrafas puderam ser
vendidas, mas o lucro que
seria usado na recuperação
das zonas afetadas pelo
acidente nuclear acabou sendo
destinado aos ucranianos
refugiados da guerra

Atualmente, a ATOMIK está
disponível no Reino Unido
em três sabores: maçã, pêra
e ameixa. Mas, por causa
da guerra, eles não sabem
se poderão produzir um
novo lote do destilado

“A colheita dos frutos
acontece entre outubro
e dezembro. Mas algumas
áreas em que plantamos
estiveram ocupadas
por soldados russos.
E a destruição foi bem
grande”, lamenta Smith

“As vendas do primeiro
lote estão bem, mas
temos que esperar para
ver o que acontecerá
no futuro”

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