Pouco antes de ser assassinado em 2003, no auge do sucesso de seu álbum "Rap é Compromisso", Mauro Mateus dos Santos, mais conhecido como Sabotage, bateu um papo histórico com a Trip sobre antiviolência, música e desigualdades. Vem ver os melhores trechos
Por XICO SÁ E CÁSSIO BRANDÃO
A ÚLTIMA ENTREVISTA DE SABOTAGE
(baú)
foto: marcio simch
“Se vacilar, o cara da periferia que faz sucesso, como eu, tem festa de playboy para ir de segunda a domingo. Aí chega na favela, pá, dá de cara com outra realidade... Não pode perder o pé da sua história, senão dança”
“Um cara me perguntou como eu consegui misturar a levada rápida do Eminem com o sotaque do Chico. Mano, eu entrei na música dos caras, imaginei e inverti. Essa é a música!”
foto: murillo meirelles
“Com 8 anos eu vendia droga, aos 15 perdi minha mãe e meus irmãos, vivi no crime e saí dele cantando música”
foto: arquivo pessoal
“Vivi a violência e cheguei à conclusão de que não adianta. Se eu usar da violência contra quem matou meu irmão, vou perder dois irmãos. A violência é a maior besteira”
foto: marcio simch
“Eu sou um cara que olha na bolinha dos zóio”
foto: marcio simch
“O resultado da violência é você ir se transformando, sabe uma metamorfose? O cara pratica o primeiro ato de violência quando discute na rua, briga. Depois entra no tráfico, vira o terror da violência. Aí ele não vai mais bater, vai dar tiro. Aí cai um, caem dois, três, quatro, e ele cai numa cadeia, perde 10, 15 anos da vida dele. E sai com a mente podre, pensando em outro assalto”
“Nasci na favela do Canão, mas defendo a tese da periferia toda. A fome e a pobreza falam a mesma língua, assim como os ricos“
foto: murillo meirelles
“Qualquer cara da periferia que não escuta o pai nem a mãe vai parar na cadeia ou vai morrer rápido. E aí, mano, é o seguinte: morreu, fodeu, tá entendendo?“
foto: marcio simch
“Sempre gostei de música. Com 8 anos eu já escutava Pixinguinha, Chico Buarque. Sou aquela espécie de negão que não joga uma bola, que gosta de escrever uma música, de escutar um som. Eu gosto de ouvir Cassiano… Não gosto de caras da minha idade cantando uma parada de agora“
foto: marcio simch
Eu olho no olho do cara e vejo se ele merece, se é amigo de verdade. Porque hoje em dia seu inimigo não tem cor nem tem cheiro. E não é só na favela que é assim. É na faculdade, no trabalho“