Não estou satisfeito com nada do que tenho e nem com as perspectivas do que possa ter. Não estou satisfeito com o que vou sendo e muito menos com as possibilidades anunciadas de meu vir a ser. Não estou satisfeito com a liberdade que tenho. Na prisão pintei-a de tantas tonalidades de verde que até enjoei desse padrão de cor. A única liberdade possível, aquela do dinheiro no bolso, não me satisfaz. O bolso forrado de “grana” e a conta no banco recheada é muito legal. Passa um sentimento enganoso de segurança e tranquilidade. Mas tudo o que se pode adquirir com ele é pouco e não me satisfaz. Por isso sempre se quer mais e o consumismo virou mais uma das neuroses da pós-modernidade. A maioria das coisas realmente importantes, que de verdade tenho necessidade, não se pode comprar com dinheiro. Às vezes nada do que há me satisfaz e só me causa náuseas. Tudo parece não passar de um sonho interrompido pela realidade. Não estou satisfeito com a tão propalada “paz”. Na verdade a paz parece constituir-se em uma utopia perversa. Paz é para aqueles que habitam o cemitério. Vida é movimento, risco e às vezes até boas surpresas. Jamais estive satisfeito com a quantidade e qualidade de felicidade que tenho tomado da vida. Sim porque às vezes que fui feliz, me senti qual estivesse assaltando um carro forte. A ideia de que haveria de pagar caro por aquilo não me saia da mente. Parece que estou condenado à incerteza do meu valor e tudo o que faço não tem importância real. Vivem querendo me completar como se me faltasse alguma parte. Preciso sempre lembrar que estou inteiro. Na verdade, vivo reclamando, insatisfeito com tudo e achando que não faço parte desse mundo. Mas como até agora não vi nenhum outro mundo além deste, só me resta viver nele mesmo. Então para de reclamar, porra!
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