Viver para aprender

por Luiz Alberto Mendes em

 

Outro dia, assistindo palestra de um amigo, fiquei pensando na quantidade de erros graves que cometi e nos erros que ainda cometo. Ele dizia que quanto mais erramos, mais temos condições de acertar. Entendi o que ele dizia de tal modo que de mim saiu até um suspiro involuntário.

Ele me conhece bem, é meu advogado; foi ele quem me tirou da prisão. De verdade nem ele sabe como eu sai da prisão, pois não impetrou nenhum recurso jurídico para me soltar: não cabia. Apenas foi conversar com o Juiz e explicou minha situação. A parte do Código que poderia me soltar, a lei da pena máxima dos 30 anos de prisão que eu já ultrapassara em quase dois anos (estava cumprindo 31 anos e 10 meses de prisão), em seu artigo primeiro, me excluía de tal benefício jurídico. Seria para quem cumpria 30 anos sem qualquer condenação no período e, durante o tempo em que cumpria a sentença, sofri várias condenações, mesmo estando preso. Mas o Juiz extinguiu todas as minhas condenação baseado no caput da lei (que ninguém deverá ultrapassar os 30 anos de prisão no país), sem observar o citado artigo. É arbítrio dele, pode dar a sentença que quiser, mas se o promotor apelasse, facilmente derrubaria a sentença. Mas a sentença prevaleceu, não sabemos até hoje porque. Caso contrário, eu ficaria preso até agora, 40 e tantos anos. Não desmereci a sentença; provei que merecia estar solto.

Mas voltando à questão dos erros, cometi os piores possíveis e não sinto que tenha pago com a pena cumprida. Eu me eduquei na prisão. Aproveitei os anos preso para ler, estudar e trabalhar (trabalhei o tempo e, na maioria das vezes, sem ganhar nada). Hoje tenho mais de 40 anos de leituras e estudos, e continuo lendo e estudando. Quem, como eu, quer ser escritor, precisa ler, estudar, pesquisar, pensar e buscar conhecer o tempo todo. O trabalho na prisão me deu disciplina, capacidade de relacionamento, diálogo e aproximação com pessoas inteligentes e cultas. Não importava o que estava acontecendo comigo, se estava sofrendo, sendo espancado, torturado e humilhado. Importava o que eu fazia com o que estava acontecendo comigo.

A multidão de erros que cometi me deram condições de avaliar os erros que poderia cometer e não cometê-los, posteriormente. Em ultima instância, a prisão, o sofrimento e a dor eram consequências de meus erros. Eu fui inteiramente responsável por tudo que me aconteceu. Caso não os houvesse cometido, não me aconteceria nada daquilo. Esse foi o raciocínio que me orientou e orienta quase que o tempo todo. Caso não queira sofrer, evite errar. E se errar, já que somos humanos e vivemos tateando na vida, errando para aprendermos a acertar, aprenda com os erros. Eles são lições de existência, quem erra muito pode aprender muito também. Claro, caso assuma sua responsabilidade neles, aceite as consequências e aprenda com eles. Talvez essa seja a lição mais dura que a vida nos ensina, mas a mais sábia, aquela que nos dará chances de aproveitar a existência no que ela tem de melhor. O motivo, o sentido ultimo da vida, me parece, é viver para aprender.

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Luiz Mendes

18/02/2015.

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