Vida, Saúde e Felicidade

por Luiz Alberto Mendes em

Diálogo

 

Queria dialogar sobre algo que venho pensando ultimamente. Ontem um amigo afirmou que "homicídio é democrático", quando estávamos conversando sobre assassinatos. Há tempos atrás afirmei que somos todos assassinos e quem nunca pensou em matar alguém, nem vivo esta. Hoje penso ainda parecido, substituindo o verbo "ser" pelo verbo "estar". Na hora da raiva, estamos descontrolados, pensamos em esganar aqueles que nos ofendem ou maltratam. Afirmei também que vontade é uma coisa que dá e passa. Os pensamentos que geramos ou que abrigamos, quando chegam à fase de execução, devem passar pela porta da vontade. Então nossos valores, nossa educação, nosso respeito à vida humana e o receio das punições inerentes aos nossos atos é quem decidem. Concluo que por momentos podemos estar homicidas, mas não somos assassinos.

O números de pessoas que matam outras pessoas é mínimo, para não dizer irrisório, que nem pega bem. Existem cerca de 200 mil pessoas aprisionadas em São Paulo, e já nos aproximamos de 20 milhões de pessoas na grande metrópole. Desses 200 mil presos, a maioria é relacionada a drogas, furtos e roubos, os condenados no artigo 121 (homicídio) do Código Penal são a minoria.

Claro, há os questionáveis "atos de resistência"; pessoas mortas pela polícia em atos de suposta resistência à prisão. Há policiais com 30, 40 e até mais casos de mortes registrados como reação à resistência. Pais choram a morte de filhos que sequer armados estavam e somente quando são famosos é que são individualizados e investigados. Quando em equipe, os matadores sequer são nominados. Há vereadores que a partir de janeiro se tornarão deputados, com dezenas de casos assim. Antigamente, quando enquadrados por policiais, os bandidos levantavam as mãos e se entregavam. Mas depois que eles levantavam as mãos e os policiais os fuzilavam, nenhum deles quis mais se render. A polícia do Estado de São Paulo é uma das mais letais do planeta.

Mas, se tirarmos esses misteriosos e insolucionáveis casos, não nos matamos tanto assim. Na verdade convivemos muito mais cordialmente com os outros. Os meios de comunicação exacerbam e nos querem fazem crer que se sairmos de casa, o risco de sermos mortos é enorme. Para a mídia é importante nos amedrontar para que fiquemos em casa dando atenção aos produtos que querem nos impingir. Coexistimos em paz, os homicídios são exceções e não regra. Por vezes temos  algumas rusgas, indelicadezas e deselegâncias mas nada de tão grande importância. Temos muito mais motivos para nos tratarmos com civilidade do que como inimigos.

O mesmo se dá com a saúde, com a felicidade, com o bem estar e quase tudo o que vivemos. Temos períodos em que ficamos doentes, mas na maioria do tempo de nossas vidas, estamos saudáveis e bem. Estamos sempre mais felizes, tranquilos e em paz do que infelizes, agoniados e em confrontos. Não suportaríamos estarmos mais doentes que sãos: morremos quando assim ficamos. Não aguentaríamos estarmos infelizes o tempo todo, perderíamos a vontade de viver e definharíamos. Suicidas são aqueles que não acreditam que ainda poderão ser felizes um dia. E também são exceções tão reduzidas quem nem merecem ser computadas.

Creio que por assim pensar, consegui ultrapassar e sobreviver a um passado tão tenebroso e sofrido quanto foi o meu. Não é esperança e muito menos tese de auto-ajuda, e sim constatação existencial. É só abrir um pouco a janela da auto-crítica para enxergar claramente. Não somos monstros assassinos; alguns caem nessa armadilha. Há até aqueles que conseguem escapar dela pela força da vontade. Não somos doente e nem tão pouco infelizes. Mas podemos estar doentes, infelizes e, de repente ter pensamentos homicidas. Como já disse, vontade é algo que dá e passa.

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Luiz Mendes

08/12/2014.   

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