Vento a favor
Além de esporte, a junção do kite com canoa havaiana aponta caminhos para gerar energia
A luz acendeu na cabeça do designer canadense Don Montague de repente. Era fim da década de 90 e ele estava em Maui, no Havaí, testando equipamentos para um esporte desconhecido até então – o kitesurf. Don pelejava para desenvolver uma pipa que pudesse ser produzida em larga escala, algo inexistente na época. Entre um teste e outro, teve a ideia de juntar um kite a uma canoa havaiana.
“Quando íamos à praia para testar velas e kites encontrávamos amigos, cada um de um esporte diferente. Assim surgiu a ideia da pipa na canoa”, lembra Don. “Na sequência, também colocamos em hobie cats (tipo de barco à vela) e começamos a tomar gosto pela coisa.” A experiência descompromissada ganhou ares de desafio. Depois de atingir o objetivo de viabilizar o kitesurf para uma linha de produção em 1998, Don mergulhou na nova engenhoca, apelidada de kiteboat.
Foram quase dez anos até conseguir o patrocínio de uma gigante empresa americana do mundo da web, cujo nome Don prefere não revelar. Ele então montou uma equipe de dez pessoas e se instalou em São Francisco, Califórnia, para transformar o devaneio em realidade – e lá está desde 2007. “É algo que não existe ainda. Não é como adotar um projeto já existente e melhorar. Temos que resolver mil probleminhas, e a cada dia surgem outros.”
A equipe de Don ainda trabalha no desenvolvimento de uma outra ideia. Aproveitando o estudo sobre a relação das asas com o vento, Don resolveu ocupar-se também com a possibilidade de gerar eletricidade a partir da energia eólica captada por pipas. O projeto Makani Power, como é chamado, deve ser usado como fonte limpa para o abastecimento público, mas ainda está em fase de desenvolvimento – assim como o kiteboat.
Brasileiro na parada
E qual a vantagem do kiteboat com relação a outros barcos movidos a vento? Com a palavra, o único brasileiro na seleta equipe de Don, o engenheiro aeronaval Decimo Mazzocato, o Dudu, que acompanha o canadense desde a época em que o equipamento de kitesurf era desenvolvido em Maui: “São várias vantagens. O kite faz o barco ‘levitar’, deixando-o mais leve. Temos a liberdade de movimentar o kite no céu e não precisamos de quilhas profundas como os veleiros”, diz. “O Don é tipo um guru, um inventor maluco, sempre experimentando e inovando. Aqui, minha função principal é projetar os kites”, diz.
Mas Dudu, assim como toda a equipe, não se limita ao trabalho entre quatro paredes. “Quando colocamos o barco na água, todos fazemos parte dos testes. Posso ser chamado para ficar no leme, por exemplo.” Previsões para finalizar o kiteboat? Nenhuma. Mas isso não os preocupa. “Nosso objetivo no momento é apenas desenvolver esse conceito, ainda não temos plano de comercializar o kiteboat.”