Vasconcelândia
Vasconcelos, o José, queria contratar palhaços para divertir o povo brasileiro
No Brasil da década de 60, talvez não tenhamos sido menos explorados por políticos corruptos e inescrupulosos. Mas muito provavelmente éramos àquela altura, para o bem e para o mal, menos conscientes e, por que não dizer, menos informados.
Naquela época, por exemplo, Vasconcelândia era, no máximo, sinônimo do sonho do humorista José Vasconcelos.
Um legítimo inovador para seu tempo, Vasconcelos resolveu um belo dia transformar Guarulhos, nos arredores de São Paulo, naquilo que ele gostava de definir como sendo a “Disneylândia brasileira”. Seu projeto pioneiro de um megaparque de diversões nacional, registre-se para os mais jovens, nunca saiu do papel. Pior que isso, quase levou seu autor à falência, dragando mais de 20 anos de suas suadas economias. Mas nada consta nos poucos registros sobre a história do sonho do humorista acreano que dê conta de que a ideia tenha lesado ou sequer prejudicado levemente qualquer outra pessoa.
O significado de Vasconcelândia hoje, porém, ganha outros contornos, bem menos românticos, aliás.
Numa entrevista que chocou o Brasil, o senador Jarbas Vasconcelos resolveu fazer um relato sem filtros sobre o PMDB, partido que ajudou a fundar e no qual milita há cerca de quatro décadas. Mais do que isso, em sua entrevista Vasconcelos, o que não é humorista, diz muito sobre si mesmo, sobre o sistema de poder no Brasil e, claro, sobre nosso país propriamente dito.
Deixa claro que boa parte dos políticos eleitos por nós tem como objetivo enriquecer à custa de corrupção, do tráfico de influências, de cargos, de obras e de benesses variadas.
Vasconcelos, o José, queria contratar palhaços para divertir o povo brasileiro. Jarbas, sem nenhum constrangimento, tira qualquer dúvida sobre quem são e onde estão hoje os palhaços do Brasil.
Não há dúvida, porém, que há algo de inovador no triste teor do depoimento de Vasconcelos, o Jarbas. Não é todo dia que um membro fundador de uma agremiação, especialmente política, vem a público expor a podridão dos próprios intestinos, ainda que sem nomear claramente seus agentes.
Outros significados
Por aqui porém, preferimos ficar com outros significados para o conceito de Inovação, derivado do tópico Desprendimento, que serve como guia da edição da Trip que você inicia aqui.
Se quiser começar com um contemporâneo de Vasconcelos, o José, resgatamos a saga de João Augusto Amaral Gurgel, o brasileiro que ousou acreditar e apostar em ideias como a de um automóvel brasileiro original e eficiente e até a ir bem mais longe, projetando e construindo um carro elétrico quando a palavra sustentabilidade ainda parecia restrita ao vocabulário de engenheiros e calculistas de estruturas.
Se preferir algo mais moderno, vá para a página 90 e veja como Laird Hamilton, o filho adotivo do surfista Bill Hamilton, famoso por ter criado algumas das formas mais improváveis de deslizar sobre o oceano, parte agora para desbravar as ondas por um lado novo: o de baixo.
Prefere algo mais próximo e mais abrangente? Vá para as Páginas Negras e conheça melhor quem afinal é
Chimbinha, a figura que saiu das casas de tolerância nordestinas para arrastar multidões com suas músicas e ideias e para vencer até mesmo a conhecida intolerância da “intelligentsia” nacional, depois de virar citação frequente nas bocas de oráculos do calibre de Chris Anderson e Hermano Vianna.
Oráculo para muitos é também até hoje o ex-presidente FHC. Do alto de seus 77 anos de idade e do currículo mais respeitável de um ex-presidente recente do Brasil (o que, é verdade, pode não ser muito se lembrarmos dos nomes de quem com ele concorre nesta raia...), Fernando Henrique chamou para si o debate pelo fim da hipocrisia e das políticas obtusas no que diz respeito ao consumo, repressão e comércio de maconha no país.
Sua tão louvável quanto surpreendente atitude visa provocar um debate nacional mais inteligente, contemporâneo e coerente, que deixe de fomentar o tráfico e a punição inconsequente e desproporcional de dependentes. Para contribuir com o debate e com a postura inovadora, que, diga-se, frequenta as páginas da Trip desde 2001, quando declaramos nossa posição pró-descriminação, nosso correspondente nos EUA, Bruno Torturra Nogueira, revela como tem sido tratada a questão em alguns Estados americanos que lidam de forma um pouco menos tacanha com o assunto.
Inovar é preciso.