Uma ponte para o sobrenatural

Uma ponte para o sobrenatural

por Ricardo Guimarães em

Caro Paulo,

Eu sabia o que era guru para mim. Era qualquer pessoa que tivesse contribuído para o meu aperfeiçoamento, apontado uma direção, alguém com quem eu tivesse aprendido algo relevante para a vida. E minha ideia era fazer uma homenagem a todos os meus gurus a quem sou muito grato, fazendo um listão aqui. Sim, precisei de muita gente para me ensinar alguma coisa. Cheguei muito tosco neste planeta.

Mas trocando ideia com amigos, em particular com a minha cunhada Tuta, que dizia ter certeza de que guru era apenas “guia espiritual”, acabei cheio de dúvidas sobre o que é um guru. E fui estudar.

Encontrei na mitologia grega o deus Quíron, metade cavalo, metade homem, como a melhor representação de guru. Dizem que era o mais nobre e o mais sábio dos centauros. Era o grande amigo, mestre e educador dos homens. Foi coach e ajudou muitos heróis do Olimpo a serem heróis. Ele dominava o conhecimento porque, além de médico, tinha sido ferido, por acaso, com uma flechada de Héracles. Na busca da cura de sua ferida, ele estudou, pesquisou muito a natureza e criou remédios fantásticos. Curou dores de muita gente, menos a dele. Apesar de imortal, escolheu morrer para poder se livrar da dolorida ferida que não conseguia curar.

Morto, Quíron subiu ao céu e virou a constelação de Sagitário, como explica o mestre Junito Brandão: “A flecha, saggita em latim, a que se assimila Sagitário estabelece a síntese dinâmica do homem, voando através do conhecimento para a transformação, de ser animal em ser espiritual”.

Dá vontade de ficar explorando os mil significados do mito de Quíron, mas o que importa nesta conversa é que ele define o que é guru: é quem faz a ponte entre o natural e o sobrenatural. A Tuta estava certa.

E mais certos ainda estavam os gregos porque a ideia do homem-cavalo é genial!

Crédito: Sabrina Barrios

 APRENDIZ DE DIVINDADE
Somos bestas com potencial de conhecimento e consciência, o que nos transformaria em humanos capazes de escolher morrer e ir para o céu. O mito junta as duas metades numa figura cheia de dignidade e sensualidade para deixar claro que a besta animal não é a metade ruim e atrasada, mas o veículo e a fonte do conhecimento que nos faria humanos cumprindo a saga ditada pelos deuses.

Então, se guru é quem nos explica esse enigma chamado vida e nos ajuda a fazer essa viagem com mais significado e prazer, eu tive um guru só. Na verdade, uma guru fêmea, linda, loira, sagaz e brilhante, com certeza uma aprendiz de divindade, uma exímia pontífice, isto é, construtora de pontes entre o natural e o sobrenatural: a centaura Vera Helena Camará. E paro por aqui para que nada prejudique a homenagem que eu quero fazer a ela.

 

Abraço saudoso do amigo,

Ricardo

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