Tricky

Veterano do trip hop fala sobre possível show no Brasil e novo disco com o Massive Attack

por Luiz Filipe Tavares em

Fã do Massive Attack, regojize-se com a boa nova. O grupo central da fundação do trip hop britânico vai se reunir ainda esse ano em Paris para a gravação de seu novo, o sexto, álbum de estúdio. E o disco, ainda sem título, será o primeiro a ter novamente a participação mais do que especial de Adrian "Tricky" Thaws desde Protection, de 1994. Em entrevista concedida à Trip, Tricky afirma que receberá Del Naja e Daddy G em sua casa na capital francesa para a produção das faixas em que o time vai colaborar e de bônus ainda contou que está acertando os detalhes para vir ao Brasil ainda este ano para divulgar seu mais recente disco solo, Mixed Race.

O compositor e produtor surgiu no meio do trip hop inglês no início dos anos 90, quando começou muito jovem a colaborar com o coletivo The Wild Bunch, que posteriormente evoluiu para o Massive Attack. Ao lado da banda, Tricky se lançou de cabeça no estilo cantando em três das nove faixas do disco de estreia do então trio, Blue Lines. Foi nessa época que ele conheceu a cantora e colaboradora constante da banda inglesa, Martina Topley-Bird, em um encontro que acabou por gerar a incubadora do que seria o primeiro disco solo de Tricky, o cultuadíssimo Maxinquaye.

"Não me leve a mal, eu adoro quando as pessoas gostam dos meus discos. Mas a opinião dos outros não me importa tanto. O que é mais importante para a minha música é eu estar feliz com o resultado final."

De lá pra cá foram mais oito discos de estúdio, participações em filmes como O Quinto Elemento (de Luc Besson) e A Outra Face (John Woo) e uma carreira sólida como produtor e intérprete. Hoje mais experiente, vivendo tranquilo do outro lado do Canal da Mancha, Tricky aproveita o tempo para treinar boxe e trabalhar, deixando de lado as distrações de Londres e as festas sem fim, noite após noite, de Los Angeles. Como ele mesmo diz na entrevista, "você nunca sabe quando não vai mais aguentar as festas. De repente eu não me considerava um 'bebedor', mas estava virando noites, bebendo quatro a cinco dias por semana. Estava ficando perigoso". E para fugir das tentações, Adrian Thaws encarna o workaholic que existe dentro de si.

"Antes de mais nada, o que eu quero fazer agora é o disco do Massive Attack, que a gente começa a trabalhar dentro das próximas semanas. Eles me convidaram para colaborar de novo e eu topei na hora. Eu os convenci de vir a Paris para a gravação. Realmente não queria ter que ir até Londres, ficar em um hotel qualquer e ter que gravar naqueles estúdios comerciais", resmungou em tom de brincadeira o produtor, que ainda revelou que tem mais dois discos pela metade em desenvolvimento. "Vamos gravar no meu apartamento mesmo, bem mais confortavel. Depois eu tenho mais dois álbuns meus que ainda não estão finalizados, mas que já tem alguma coisa produzida, também para serem retomados em breve. Eles vão sair, mas a prioridade agora é o novo disco do Massive Attack. "

Lançar, lançar e lançar, esse é o novo ritmo de trabalho de Tricky. No Brasil, o que está sendo lançado agora é o disco Mixed Race, gravado em 2010 e que finalmente chega às lojas do Brasil através do selo Lab 344. Depois de tanto tempo promovendo o álbum, é difícil interpretar os sentimentos por trás dessas respostas quase automáticas depois de muito serem repetidas. Mas o sentimento geral do artista é de satisfação com o trabalho e confiança na opinião que ele acredita ser central para qualquer músico: a opinião do próprio artista.

"Eu já estou promovendo o disco há seis meses e já cheguei em um ponto onde tudo o que eu quero é gravar um disco novo. Nesse ponto, eu posso dizer com certeza que estou totalmente satisfeito com o disco e que as músicas estão funcionando maravilhosamente bem em cima do palco. Já foram muitos meses de turnê e eu adorei cada show, mas agora quero me concentrar em voltar para o estúdio e gravar. Não me leve a mal, eu adoro quando as pessoas gostam dos meus discos. Mas a opinião dos outros não me importa tanto. O que é mais importante para a minha música é eu estar feliz com o resultado final."

E é com a filosofia simples do "eu lanço se eu gostar, se não gostar não vou lançar", Tricky não esconde de ninguém a empolgação de uma possível passagem pelo Brasil. Em maio ele fez cinco apresentações em quatro países da América Latina, mas não chegou ao País do Carnaval. Agora, com a temporada de festivais começando a tomar forma por aqui com o Rock In Rio, o Planeta Terra e o SWU, ele revela a vontade de conhecer o país e conversas para uma possível apresentação por aqui ainda no segundo semestre. Ele jura não ter detalhes, mas diz que deve mesmo vir ao país antes de dezembro.

"Bom, eu estou tentando resolver essa ida ao Brasil agora mesmo, enquanto falamos. Minha produção está tentando acertar umas datas para o Brasil e as negociações estão caminhando. Então eu imagino que até dezembro, com alguma sorte até antes disso, nós vamos ter uma data fechada para tocar por aí. Isso seria fantástico, eu amaria conhecer o Brasil. Estou feliz que o disco saiu por aí agora e sería incrível tocar em algum dos grandes festivais de vocês." 

"Eu tive a chance de conhecê-la nos ensaios e passar um tempo com ela para ver como Beyoncé é humilde e trabalhadora"

Falando em festivais, Tricky protagonizou um momento curioso no último Glastonbury, tradicional festival britânico de três dias que aconteceu no final de junho, quando o produtor e compositor dividiu o palco com a cantora-musa Beyoncé, dividindo os vocais do single Baby Boy da esposa do rapper Jay-Z. Sobre a pontinha no show, ele se diz muito surpreso e lisonjeado com o convite de subir ao palco do evento completamente lotado no interior do Reino Unido. No balanço, ele diz que adorou a participação e revelou a vontade de gravar uma parceria com a diva do R&B moderno.

"Eu fiquei extremamente surpreso. Ela me ligou, disse que gostava muito do meu trabalho e perguntou se eu podia aparecer no show para dar um oi. E eu fiquei de cara, afinal, eu não sou um artista de rádio. De todas as pessoas que ela podia convidar ela me escolheu e isso foi muito emocionante. Ela queria que eu chegasse para dar um oi para 170 mil pessoas, isso é um belo de um elogio. Eu tive a chance de conhecê-la nos ensaios e passar um tempo com ela para ver como Beyoncé é humilde e trabalhadora. Eu vi o show e os ensaios e me impressionei muito com o quão duro era trabalha para preparar esses shows que faz."

"Adoraria poder trabalhar com ela, quem sabe produzir uma faixa juntos. Ela é simplesmente muito legal. E quando ela canta ao vivo ela é ainda melhor do que no estúdio, o que é muito impressionante. Então claro, eu adoraria colaborar com ela em um futuro próximo", ele comenta rindo, sempre divertindo-se em mesclar suas influências mais do underground da música eletrônica com o que há de melhor no cenário pop. Você pode ver a participação de Tricky no show de Beyoncé em Glastonbury no vídeo abaixo (ele aparece aos 3:55). 

 

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