Testosterona

Um noir revisitado pelas mãos de Carlo Lucarelli e o lirismo macho de Marçal Aquino

por Redação em

Noir à bolonhesa
Almost Blue, de Carlo Lucarelli (Conrad, 220 págs., R$ 21,60)

A tal da globalização não perdoa os leitores da pátria de Dante, Moravia e Calvino. Aqui, o policial noir nos moldes yankees é revisitado por Carlo Lucarelli, 45, autor de premiados romances e roteiros (alguns para Roman Polanski e Dario Argento) e vocalista da pós-punk Projetto K. E é a música o eixo deste ótimo thriller, ambientado na universitária cidade de Bolonha. O cego Simon é um obcecado em interceptar conversas internéticas e telefônicas enquanto ouve Chet Baker (como "Almost Blue", de Elvis Costello – a canção mais triste de todos os tempos). O voyeur sonoro ajuda a heroína, Grazia Negro, uma policial atormentada por cólicas menstruais, a encontrar o Iguana, um serial killer fanático por Nine Inch Nails. Entre sussurros de jazz e gritos de Trent Reznor, o sangue é servido com elegância mezzo cool, mezzo mediterrânea; uma pasta saborosa, a ser degustada com uma boa Coca-Cola.
(Ronaldo Bressane, escritor e jornalista, pode até ser eventualmente cego, como já vimos há algumas páginas, mas tem faro para literatura)

Lirismo Macho
Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios, de Marçal Aquino (Companhia das Letras, 232 págs., R$ 37)
O novo romance de Marçal Aquino é jóia rara. A sutileza e poesia de suas imagens nos reeduca a visão sobre o interessante e o belo. Pela delicadeza de sua prosa, que conta uma história ambientada em uma pequena cidade do Pará, parece pinçar estrelas. E é com o mesmo cuidado e lirismo que trata cada um de seus personagens, figuras como o fotógrafo Cauby e Lavínia, charmosa mulher de um pastor. Em meio a tanta suavidade e leveza, Aquino polvilha cenas duras como mãos fechadas, que rimam com seu histórico de narrador da crueldade urbana. E, nesse ritmo, o romance vai crescendo, tomando conta de nossas horas e não há, nisso ele é mais uma vez cruel, como ganhar sossego antes de seu ponto final.
(Luiz Alberto Mendes é escritor e colaborador desta revista. Jura que não elogiou Marçal por ter gostado da resenha que este publicou de seu recém-lançado Às Cegas, na edição passada da Trip)

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