Tá tudo em casa...
Em SP, uma turma coloca em prática o conceito de rede e cria nova forma de trabalhar
Escondida entre os galpões e prédios do bairro operário da Barra Funda, em São Paulo, há uma improvável vila de ar europeu, composta de 14 casas. A arquitetura é eclética, com paredes de tijolos aparentes convivendo com gárgulas medievais e colunas gregas. Na entrada, uma placa avisa aos “distintos residentes” a proibição de pessoas “estranhas” no local. Os “distintos residentes”, no caso, era parte da alta classe média da região que ergueu a construção em 1939, dando-lhe o nome de Vila Parque Residencial Savoia. Depois serviria como cenário de filmagens, incluindo o infantil Castelo Rá-Tim-Bum, da TV Cultura. Nos anos 80, quase virou cortiço. Hoje, uma revolução tecnológica mais tarde, ela atende por Casa de Cultura Digital (CCD).
São mais ou menos 40 pessoas, distribuídas em cerca de dez empresas, grupos ou como você quiser chamar. Há desde produtoras audiovisuais e escritórios de comunicação multimídia até ONGs e clubes de hackers – todas, claro, com os pés e o pensamento fincados na cibercultura. Dependendo do projeto da vez, o povo reúne as forças ou trabalha separadamente. “A CCD tem como propósito promover encontros, ideias, estimular a autonomia das pessoas, permitindo que elas possam viver de algo tão bacana quanto é o que elas acreditam. Na verdade, o grande projeto da casa é a própria casa, o encontro das pessoas que estão ali produzindo e criando novas soluções”, conta o jornalista Rodrigo Savazoni, diretor da Fli Multimídia e um dos idealizadores da casa. “Isso aqui é o resultado de décadas de ideias. É fruto direto da contracultura dos anos 60 e 70”, filosofa Cláudio Prado, responsável, dentre outras coisas, pelo Laboratório Brasileiro de Cultura Digital e também espécie de ideólogo de toda a turma.