Surfe ao vivo
Hoje não somos mais um gueto
Há pouco mais de 20 anos havia seis revistas de surfe no país, as notícias chegavam defasadas semanas, meses, e mesmo assim era fascinante ler aquelas informações, fossem do Havaí, fossem de Ubatuba. Quem não praticava não entendia como um esporte ainda tão pequeno suportava tantos títulos. O desprezo da grande mídia e o idealismo dos editores ajudavam a explicar o fenômeno.
Há 12 anos esta coluna já era publicada e me orgulhava publicar os fatos da semana "up to date". Os jornais, as TVs, percebendo a gritante atração sobre os jovens, começavam a dar, se não a devida, alguma atenção ao surfe e a outros esportes de ação.
O que se viu na transmissão ao vivo pelo SporTV 2 nos últimos dias foi algo inédito e agradavelmente surpreendente. Gente sem o menor vínculo com o esporte veio comentar sobre o tubo nota dez de Neco Padaratz como se estivesse falando das defesas do Diego na vitória do Flamengo sobre o Santos.
E, pelo visto, a cobertura prendeu essas pessoas na programação por um bom tempo, porque falavam de outras ondas e atletas, das pontuações etc. Se amarrou os curiosos, o que dirá dos fanáticos praticantes. Parabéns ao Emmanuel Matos, aos ancoras Bocão, Guilherme Herdy e Diana Bouth e a toda equipe.
Mas o principal motivo da minha surpresa, além do tempo de duração da cobertura - foram seis a oito horas durante quatro dias incluindo sábado e domingo no horário nobre -, foi sustentar essa transmissão com a péssima qualidade das imagens, transmitidas via internet e freqüentemente interrompidas.
Surfe é um esporte essencialmente plástico, as imagens são fundamentais para atrair as atenções. A explicação só pode estar numa mudança de percepção do esporte, que, definitivamente, saiu do gueto.
A aposta da emissora de estrear o formato na etapa de Teahupoo, Taiti, atualmente a mais temida e prestigiada do Tour, reduziu seu risco de insucesso enquanto o risco ficava para os atletas nos pesados tubos sobre a rasa bancada de coral. O Billabong Pro Tahiti chegou até o limite do prazo da janela de espera e valeu a pena. Foram quatro dias com ondas perfeitas variando de quatro a oito pés e desempenhos incríveis dos melhores surfistas do mundo.
Foram três notas 10, entre elas as dos brasileiros Neco e Paulo Moura, esta numa das maiores ondas surfadas no campeonato, e três de Kelly Slater. É, nessas horas, quem é rei não perde a majestade.
Na final Slater cravou duas notas 10, fato inédito e histórico; colocou mais um recorde em sua extensa galeria e não deu a menor chance para Damien Hobgood, que ainda saiu com o ombro deslocado no meio da bateria.
A vitória foi comemorada ainda na água bebendo uma latinha de cerveja Foster, patrocinadora do circuito, dentro de mais um tubo.
Desde a etapa brasileira de 2003 Slater não vencia e a vitória em Teahupoo, a terceira dele em seis edições do campeonato, o deixou colado nos primeiros do ranking, entre eles seu maior adversário, o atual campeão Andy Irons (2º).
A abertura da temporada na Austrália foi decepcionante, duas etapas com ondas pequenas, mas agora o Tour da ASP deve esquentar, porque já na próxima semana o circo estará montado em Tavarua, Fiji, assim como Teahupoo uma onda tubular e pesada para a esquerda.
NOTAS
Sob a benção da lua
Com o prazo das licenças de escalada chegando ao fim, a esperança das 3 equipes brasileiras no Everest é que a lua cheia deste próximo fim de semana traga estabilidade ao arisco clima himalaio e permita o ataque final ao cume, de 8.848m.
Brasileiro de pára-quedismo
O duelo entre Luís Cani, Fábio Brandt e Kalay Marques marcou a disputa da primeira etapa de pouso de alta performance realizada em Campinas. E neste fim de semana 10 dos melhores atletas do país estarão em Curitiba para uma prova de Swoop.
Para menores de 21 anos
Os surfistas Adriano "Mineirinho" e Pablo Paulino, campeões mundiais da categoria, são as principais atrações do Oakley Junior Challenge, evento móvel que começa nesta segunda em Santa Catarina.