Sorria, você está sendo observado

Como as marcas aproveitam a pareidolia para vender carros ao consumidor

por Luiz Guedes em

Se um automóvel sorrir para você, não precisa sorrir de volta. Tudo não passa de uma calculada estratégia dos designers para atrair a atenção dos consumidores

Os faróis são como dois olhos. Os retrovisores ganham ares de orelhas e a grade frontal se assemelha a uma grande boca. Se você já olhou para um automóvel e enxergou nele emoções como a de um rosto sorridente, não se preocupe, você não está sozinho. O fenômeno tem até nome: pareidolia, que é a capacidade de o nosso cérebro reconhecer feições humanas em nuvens, montanhas, árvores ou qualquer objeto inanimado.

No caso específico dos automóveis, os fabricantes até já perceberam a influência que isso pode causar nas vendas de um modelo. “A cara que damos a um carro é totalmente proposital e levada em consideração na hora de criar o estilo de um novo produto”, reconhece o designer automotivo Hélio Queiroz, integrante do departamento de design da General Motors do Brasil. “Um simples farol mal posicionado pode deixar o carro estrábico ou com aparência triste, representando fracasso nas vendas e milhões em prejuízo”, enfatiza o especialista. “O consumidor nem sabe a razão, mas acaba refutando determinados modelos. É um ato inconsciente”, diz.

Um estudo realizado por uma empresa de consultoria chamada EFS, com o apoio de antropólogos das universidades de Viena e de Chicago, também reconheceu o fenômeno, além de apontar a predileção por automóveis sorridentes.

Carros felizes, por sinal, têm se mostrado uma tendência atual. Basta reparar no número cada vez maior de marcas cuja identidade visual incluiu grades frontais avantajadas e voltadas para cima, como um amplo sorriso. “Mas é preciso dosar o efeito, além de levar em consideração a cultura de cada país”, observa Hélio, apontando como exemplo modelos com ares infantis, verdadeiros sucessos em mercados como a China (caso do Chery Faira e sua aparência que remete a um bichinho de desenho animado), mas que acabam não agradando ao gosto do brasileiro.

Herbie

E, para quem acha que carro com cara de gente é coisa nova, o que dizer de clássicos como o inglês Austin-Healey Sprit de 1958 ou do velho conhecido Fusca? Diferentemente do que muita gente pensa, a fama de o Fusca quase se comunicar com seus proprietários é muito anterior ao personagem Herbie dos filmes da série Se meu Fusca falasse, lançados entre 1969 e 2005.

Já em 1956, a Volkswagen circulava o mundo com uma publicidade na qual a frente do modelo se misturava a um rosto sorridente. Característica fundamental, segundo os produtores, para o modelo sobressair-se no “teste de elenco” e derrotar 11 concorrentes de outras marcas antes de arrematar o papel de protagonista nas películas da Disney.

Crédito: Jörn Friederich/Agefotostock
Crédito: David Mcintyre/Zumapress.com
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