Pensei em escrever sobre originalidades, discutir o que ninguém tivera coragem de discutir antes. Reiniciar, começar tudo de novo. Numa palavra: revolucionar. Acreditava que meus mais de 30 anos de leituras e estudos incessantes fariam a diferença. Estava com ideias novas, abordagens que ninguém fizera. Achava que estava pronto para inaugurar um novo mundo, construir uma nova história. Acreditava nisso pois minha vontade tinha sido imperiosa até então. E isso era tudo o que eu possuía.
Mas me enganei. Quanta ingenuidade... Havia muita fé na vida e nos homens. Volto-me agora aos tempos que antecederam minha libertação e me vejo andando pra lá e pra cá feito doido no páteo da prisão. Estava em febre, ardendo de vontade de provar que estavam todos errados. O homem é realmente passível de crescimento, evolução e desenvolvimento. Se eu conseguia aquela ultrapassagem, eu que já fora ladrão, bandido, assassino, todos poderiam conseguir. Essa era minha mensagem. Pensei pudesse tocar a todos com minha verdade pessoal. Acreditava sinceramente que as pessoas estavam interessadas nas outras pessoas.
A decepção foi enorme. Aqui fora, tirando pessoas sensíveis e comprometidas com as causas sociais (e não são poucas assim), ninguém esta interessado em nada novo. Não encontrei um só entusiasta como eu me via ao sair. A mídia só aceita o que todos estão comentando. O que todo mundo vê, sente, usa e pensa, é o que interessa. Não produz nada de novo. Até parece que todos falamos a mesma língua, possuímos os mesmos conceitos e que somos iguais uns aos outros. O que nos diferencia uns dos outros parece não existir. Tudo segue um padrão monótono de forma e conteúdo.
Ainda tenho coragem, mas já sei que apenas contribuirei, mas não farei diferença alguma.
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