Sofrer faz parte das melhores vidas

Mas que no cômputo geral, tudo é aprendizado

por Luiz Alberto Mendes em

 

A teoria do primeiro passo

 

Durante algum tempo em minha vida, fui obrigado a seguir método bastante rígido de lidar com complexidades que podiam redundar em desastres. A teoria do primeiro passo. Buscava encarar tudo como escada. Não me permitia subir nenhum degrau. Já sabia que os outros se atropelariam logo a seguir. Foi necessário para que conquistasse algum autocontrole. Ficava sempre no degrau anterior.

 

Foi assim quanto às drogas (não passei do baseado); em minhas disciplinas de estudioso e pesquisador (terminei todos os livros que iniciei); com relação à ansiedade e a impaciência (pisava em cima, qual fosse cobra); exercícios físicos (ainda faço corrida de rua); valores morais e éticos; educação, respeito e elegância. Não me permitia deixar de cumprir o que me determinara. Sabia se desse o primeiro passo, não conseguiria forças para segurar o segundo. Precisei me segurar, por décadas, como se segura um touro a unha. Vacilei não poucas vezes. Mas continuei na certeza que da próxima vez acertaria. 

 

Hoje tenho mais liberdade comigo mesmo. Posso me deixar andar sem susto. Sei um monte de coisas que aprendi na prática, observação, ou estudo. Sei que sofrer faz parte das melhores vidas. Mas que no cômputo geral, tudo é aprendizado. A gente sabe que ganhou porque deu resposta aos desafios que a vida nos propôs. Mesmo quando as respostas foram inteiramente equivocadas. Por exemplo: eis nossos filhos ai criados e tendo suas próprias vidas. Conseguimos nos manter contentes apesar de tudo.

 

Hoje acredito que precisei de toda aquela disciplina ferrada para poder erguer a cabeça. Creio que há uma linha divisória que a gente pode até ultrapassar. Mas se ultrapassamos muitas vezes, acabamos esquecendo que ela existe. Desaparece a noção de propriedade alheia, daí “é tudo nosso” mesmo que sem o necessário esforço para conseguir. Acaba a ética, a moral, o respeito pelo outros e por consequência, o homem.

 

Nasce mais um predador que vai à caça na densa floresta social.

 

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Luiz Mendes

 

09/04/2012.

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