Snapshots
Sete instantâneos para pensar mais que alguns instantes
Descobri que nos banheiros públicos do aeroporto de Madri-Barajas, colados nas paredes, existem uns frascos amarelos de plástico, do tamanho de uma lata de pêssego em calda. É para os viciados jogarem as seringas e não infectarem os outros largando-as por aí. Em um dos lados do recipiente estão escritas as instruções. Inclusive a de que não se encha demais o frasco para não colocar em risco outros usuários.
Li, em algum lugar, uma entrevista com um dos produtores (será o diretor?) de Die Another Day, o último filme de James Bond. Dizia a figura que, desta vez, decidiram fazer a coisa certa: escolheram uma mulher que soubesse atuar para contracenar com Pierce Brosnan, o atual 007. Escolheram Halle Barry, que ganhou o Oscar de Melhor Atriz no ano passado. O filme é um sucesso e em pouquíssimo tempo deu um lucro como nunca antes os filmes da série tinham dado. Pode ser que alguém lá em cima fez coincidir uma atriz que tivesse ganhado um Oscar e que tivesse o physique du rôle para o personagem. Pode ser, também, que decidiram fazer a coisa certa. Melhorar as falas e colocar uma atriz que além de ter um par de peitos admiráveis soubesse correr disparando uma pistola e, acima de tudo, interpretar.
Por outro lado, o novo presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou no dia da posse que a missão, o sonho, a esperança dele era de fazer com que cada brasileiro tivesse meios de ter na mesa café-da-manhã, almoço e jantar. Para isso, proclamou que o ponto principal deste governo seria o combate à fome. Fome Zero. Interessante. Interessante porque é uma coisa tão simples e eu nunca ouvi antes um presidente declarar essa decisão de fazer a coisa certa.
Se bem que, a esta altura do campeonato, as missões de James Bond parecem menos complicadas do que o objetivo do nosso presidente. Espero que ele tenha ganho, também, o mesmo cartão de Boas Festas que recebi no Natal em que está escrito: "Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível e de repente estará fazendo o impossível". A frase, que se aplica ao momento atual como uma luva, é, se alguém quiser saber, de São Francisco de Assis.
Achei, em um recorte de jornal da Folha de S.Paulo guardado numa velha agenda, uma declaração curiosa. A matéria é assinada pelo repórter Aureliano Biancarelli. É sobre a Igreja Católica e os padres acusados de cometer abusos contra crianças. Pedofilia, enfim. Diz assim: "A Igreja Católica oferece tratamento aos sacerdotes que cometem abuso sexual contra crianças, mas não deve entregá-los à justiça ou à polícia. A pedofilia é crime e deve ser punida como tal, só que a Igreja não vai entregar um filho seu para a promotoria", disse o bispo da diocese de Blumenau e responsável pelo setor de Vocações do Ministério da CNBB. "Seria a mesma coisa que pedir a um pai que entregue à polícia o filho que é usuário de cocaína", disse o bispo. O recorte é de 21 de abril de 2002. Sei que a notícia é velha, ninguém fala mais sobre o assunto ultimamente e não gostaria de me meter em assuntos de família. Mas é isso mesmo?
Vi, nos jornais, as fotos das comemorações de fim de ano no Rio de Janeiro. Dependendo do ângulo em que a câmera retratou as celebrações, se vêem uns riscos vermelhos subindo em direção ao céu. Parecem fogos de artifício, mas não são. São balas traçadoras que os traficantes disparavam. Não é preciso mais o caríssimo napalm para criar um belo efeito, como fez Francis Ford Coppola em Apocalipse Now. É só soltar o playback de Jim Morrison cantando "...This is the end, my only friend..." e apontar a arma para o céu com o dedo ligeiro apertando o gatilho.
Recebi de um leitor um wallpaper em que está escrito: "O estado natural do homem é a guerra".
Recebi, também, a oferta de que por trinta reais por mês poderia comprar a felicidade e a graça do Senhor. A oferta foi feita por um bispo, através de um canal aberto de televisão. Foi de uma maneira bem suave, quase agradável, mas direta. O argumento era de que o valor era muito pequeno, um real por dia, em compensação das graças que poderia alcançar. Não detalhou o que aconteceria em caso de reclamação da graça alcançada.
Ouvi no rádio um delegado: "Sem receptador não há ladrão"