Simbiose nas telas
Os cineastas Carlos Nader e Henrique Goldman destrincham os segredos que definem sua conexão criativa e que acabam de gerar o longa Jean Charles
A partir de um encontro na casa de um amigo em comum, o designer Rafic Farah, os cineastas Henrique Goldman e Carlos Nader começaram uma parceria – profissional e pessoal – que já dura quase 20 anos. Era 1990 e o tom da noite era de lamentação. “Todos ali estavam tentando ter ideias para sair da crise do plano Collor. Tava todo mundo ferrado!”, lembra Nader. O confisco passou, a crise da era Bush chegou e a amizade só rendeu. “Naquele dia, o Goldman começou um papo sobre um documentário que gostaria de fazer na Amazônia, Judeus caboclos da Amazônia. A sintonia entre nós foi imediata e poucos meses depois estávamos no meio da floresta, juntos por duas semanas. Tudo funcionou tão tranquilamente que foi natural continuar esse processo em outros trabalhos”, afirma Nader.
Os anos passaram, vieram outros trabalhos, os dois se tornaram colunistas da Trip. Goldman morou em Londres, Madri, Roma. Nader passou por São Paulo e Rio de Janeiro. “A distância nunca afetou nossa amizade. Vai ver é até por isso que dá certo”, brinca Nader. “Acho importante dizer que essa relação vai além do ganha-pão. O trabalho é uma consequência da amizade, e não o contrário. Durante as produções somos quase complementares. O Carlinhos pensa logo que alguma coisa pode dar errado, vê milhares de passos até chegar ao ponto final. Eu sou estabanado, me jogo nas ideias, paro pouco pra pensar, saio fazendo. E ele me segura”, manda Goldman. “Somos completamente opostos. Eu sou pisciano, ele é canceriano, dizem que funciona junto. Nossas características se potencializam, são complementares”, analisa Nader.
O rendimento das aplicações conjuntas cresceu na aposta mais recente. Nader é responsável pela produção de Jean Charles, longa dirigido por Goldman e estrelado por Selton Mello, que estreia no dia 26 de junho. O filme conta a história do brasileiro assassinado por engano pela polícia londrina, depois de ser confundido com um terrorista. “Desde o começo eu soube que esse projeto era especial. Por isso precisava de uma pessoa em quem eu tivesse plena confiança. Normalmente o Nader não faz isso. Ele produz seus próprios filmes, claro, e foi de uma generosidade tremenda ao encarar o trabalho”, elogia o diretor. “Eu fui até Gonzaga (MG), a cidade do Jean Charles, com o Goldman como amigo e saí como produtor. Ele tem uma lábia ótima. Quando percebo, já estou envolvido”, diz o produtor. “Vale dizer que tudo que o Henrique faz é muito no sentido de homenagear alguém. E isso o público vai sentir na tela. Foi um trabalho muito difícil de fazer, cheio de problemas burocráticos. Se não fosse a amizade, não teríamos chegado ao fim.