Sexo aos 70

Erasmo Carlos lança novo disco de estúdio e crava: "o sexo é uma instituição suprema"

por Luiz Filipe Tavares em

Cinquenta anos de carreira, 70 de idade e mais de 1.500 mulheres depois, Erasmo Carlos não perdeu o tesão pelo sexo e pelo rock n' roll. Acompanhado de um timaço de parceiros, o eterno Tremendão lança neste mês o seu 27º álbum de estúdio, o conceitual Sexo, onde explora com maestria o tema que permeia todas as letras do disco. Sem apelar para o que o compositor chama de "imagens pornográficas", o Terror dos Namorados transcende o tabu e fala sem meias palavras das delícias desta que é sem dúvida a mais primal atividade humana ainda praticada pela nossa espécie além da alimentação e respiração.

"Esse assunto não deveria ser tabu. Ele não é novidade para ninguém. O Big Bang mesmo já foi a primeira manifestação sexual do universo", refletiu o veterano cantor e compositor em entrevista à Trip. "As pessoas têm medo de falar de sexo. Elas sentem vergonha do assunto. Não se fala nos lares, nem nas escolas, mas é uma coisa que faz parte do nosso dia-a-dia, bicho. A gente come, bebe água e faz sexo. Todo mundo faz isso. Era para ser um assunto muito mais natural. E é um assunto que eu já havia explorado antes. Você pega "Cavalgada", que eu fiz em 1983, que é o próprio ato sexual sendo narrado e que ao mesmo tempo eu considero uma das obras primas de Roberto e Erasmo", orgulha-se.

E orgulha-se com razão. A dupla Erasmo e Roberto Carlos foi um ícone da juventude nos anos 60. Naquele período, mesmo sendo os "bons moços" da música jovem da época, ajudaram a flexibilizar os padrões sociais com suas letras sobre namoros, velocidade e curtição. Naquela década, quando nosso país sucumbiu às garras da censura do regime militar, alguns assuntos foram considerados proibidos por tempo demais. Mas o sexo nunca deixou de aparecer, de uma forma ou de outra, nas composições do Tremendão. 

"Quando a gente começou, já falávamos de sexo. 'Terror dos Namorados' foi a minha primeira gravação e lá eu falo que 'beijo, beijo, beijo as loirinhas, beijo as moreninhas...', eu estou falando de sexo. Só que eu não podia dizer que eu 'fodo, fodo, fodo', então eu falava que 'beijo, beijo, beijo'", ele brinca, arrancando gargalhadas durante a entrevista. "Antes era difícil você ser mais explícito ao falar de sexo, mas hoje em dia também não é fácil. Antigamente era a censura, agora é o politicamente correto. Você tem que lidar com religião, que planta na cabeça das pessoas que o sexo é pecado. Então as barreiras existem e nada melhor do que você levantar um assunto como esse para ser discutido".

Sexo é para mais do que um
O disco sai pela Coqueiro Verde, que liberou o álbum em seu site para streaming gratuito. Com produção e participação de Liminha, o disco tem parcerias com Arnaldo Antunes, Nelson Motta, Adriana Calcanhoto e Chico Amaral, além de participações de músicos do calibre de João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, que gravou as baquetas da música "Sentimento Exposto". Quando questionado se para falar de sexo, assim como para fazê-lo, é preciso de ao menos duas pessoas, o Tremendão ri e fala sobre o processo de composição do disco.

"Pra falar de sexo não precisa de companhia, bicho. Mas para fazer precisa", diverte-se. "Trabalhar com o Liminha foi bem importante para esse processo, porque eu não sou uma banda. Ele obedece fielmente a identidade das coisas que eu faço, sem mudar muito a estrutura das músicas. Então isso deixa o trabalho mais equilibrado. Eu gravo em casa um violão com a bateria eletrônica, entrego pra ele e ele faz o serviço. A gente decidiu trabalhar bem as baladas, afinal, elas combinam mais com sexo do que qualquer outra coisa."

"A tendência das baladas é levar ao romantismo. Tanto é que, quando você apresenta uma música lenta para alguém, essa pessoa logo pensa que é uma música romântica. E pode não ser. Mas as pessoas sempre associam baladas a romantismo. Mas eu gosto sempre de manter o romantismo junto com uma pegada rock. Não que eu ache que o rock mais animado não possa ser romântico. Não é isso. A minha favorita entres as baladas do disco é "Apaixocóolico Anônimo" (parceria com Arnaldo Antunes), porque ela tem essa pegada de rock e ainda é uma verdadeira ode ao sexo oral", dispara. 

Você pode ouvir Sexo na íntegra no site da Coqueiro Verde

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