Ser famoso pra quê?

Quero ser aquela celebridade invisível, que não tem medo de enfrentar filas no cinema nem de ter uma vida ordinária

por Redação em

por Serginho Groisman*

Fama e poder. Esse é o binômio que move o célebre, o famoso, o artista, a modelo, o ator, o diretor, os big brothers. Mas ser famoso pra quê? Pra ser conhecido, poder furar filas, viajar de graça, comer de graça e ainda ganhar uma grana? Só? Isso é pra poucos.

Sei que sou conhecido por boa parte da população brasileira que não tem outra opção de divertimento a não ser a TV. Mas sou conhecido sem ser arroz-de-festa, sem ter que me deixar fotografar em casa, em ilhas ou castelos. Sou conhecido sem ter que necessariamente namorar famosas gostosas, sem porra nenhuma na cabeça.

Pra mim a coisa é muito clara: trabalho em TV porque acho que posso contribuir com um ponto de interrogação. Prefiro ser o ponto de interrogação do que o de exclamação, todo bem vestido, animando a festa, travestido de terno ético com a ceroula manchada por uma consciência violentada.

Prefiro ser o da madrugada, uivando por telespectadores que gostem de Gismonti ou Bruno & Marrone, mas que saibam que o famoso não sou eu. Quero ser aquela celebridade invisível. Quero ter o respeito e a admiração de quem precisa, como o marginal armado que tentou levar meu carro e se espantou comigo, abaixando a arma.

Espero que ele esteja bem. Não porque não atirou em mim, mas porque a marginalidade não é caminho pra se tornar uma celebridade. Os rostos e impressões digitais das pessoas que escolhem esse caminho não acabam estampados em capas de revista, mas em fichas do IML, das casas de detenções e das Febens.

Ainda assim, ser famoso pra quê? Pra poder comprar um carro blindado, contratar seguranças, motoristas, agentes e assessores de imprensa? Pra estampar capas de revistas só porque trocou de namorada ou porque agora está com a ex do fulano, que na semana passada era capa com um título qualquer jurando amor eterno? Academia, cirurgia plástica, pequenos escândalos, casamentos circunstanciais não exigem estudo nem pesquisa.

Pra muitos, a invasão de privacidade é o que de melhor a humanidade inventou. Mas só sofre essa invasão quem quer. Não ter medo de enfrentar filas, de ir ao cinema e ter uma vida comum é possível. Mesmo sendo famoso. Hoje em dia, difícil é permanecer famoso. Porque permanecer famoso não é fama nem sucesso, mas resultado.

*Serginho Groisman é diretor e apresentador de TV

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