Sentimentos de Liberdade
De repente, os portões se abriram e eu tinha o céu por teto e o planeta sem muralhas
Sensações Extremas
De repente, os portões se abriram e eu tinha o céu por teto e o planeta sem muralhas. Tudo era largo e os olhos ardiam em profundo. A hora estava vencida e os minutos provocavam os olhos arregalados de vida. Meu ser engolia espaços que haviam me separado de tudo que mais amava. Havia medo de que tudo aquilo não passasse de um engano. Logo descobririam e eu ali vulnerável, ainda ao alcance, na boca da prisão.
Mas, ao dar os primeiros passos ao sol, percebi minha sombra me completando. Tudo parecia leve e oco, mas pesado como toda liberdade. No caminho, cortei canaviais com as mãos, pensando em como tudo aquilo tinha conseguido viver sem mim. Tudo era muito novo e surpreendente. Não possuía informação segura acerca de quase nada. Parecia que tudo estava além da minha capacidade de entender. A vida estava fluindo poderosamente.
Sentia minha desimportância. As pessoas quase me atravessavam, passando por dentro de mim, sem me ver, com seus olhos zumbis. Engraçado, eu as amava mesmo assim. Muito. Estava descobrindo agora. O que me doía na prisão não eram as grades, mas as muralhas que me separavam da possibilidade de amar. Fora por elas, pelo turbilhão de emoções e sensações que me causavam que lutara a vida toda. A minha sobrevivência se devia ao imenso desejo de estar junto às pessoas no mundo.
Olhava para trás e não acreditava que conseguira ficar mais de 30 anos separado de tudo aquilo. Como conseguira caminhar se meu além sempre dependeu dos outros? Acho que vivi me debatendo, de arrancamento em arrancamento para não interromper o fluxo. Combatendo a rotina, a revolta e a negação ferozmente para não enlouquecer. Acumulando pequenas ultrapassagens que ao fim, somava em eficiência. Buscando um presente que, de verdade, não se parecesse nem um pouco com o passado. Mas que criasse e participasse da invenção do meu futuro.
E ali estava eu sozinho. Sem tostão no bolso naquela imensa rodoviária iluminada. No bolso um número e um cartão telefônico. A boca seca, a respiração ofegante e os olhos sorrindo até para o cesto de lixo. Sabia que a companheira me rastreava com seu periscópio emocional. Foi difícil conseguir ligar, eu não sabia. Mas foi difícil até reaprender a andar. Levei muitas trombadas na rua aprendendo a desviar. Aquela voz querida encheu meus ouvidos de calor e vida. De repente acreditei que era possível e fui feliz como nunca.
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Luiz Mendes
25/02/2010.