Sem tempo a perder
O escritor brasileiro em francês
Aos 27 anos, Régis de Sá Moreira, filho de brasileiro com francesa, já publicou dois livros e vendeu 8 mil exemplares na França. Pas de Temps à Perdre (Sem Tempo a Perder) descreve um passeio de um casal por uma cidade que não pára de girar, e Zéro Tués (Mortos Zero) conta de modo não-linear o processo de separação de um casal que desemboca em um duplo suicídio - enquanto isso, uma criança emite sinais de que entendeu tudo o que acontece e ruma para um lugar onde nada disso aconteceu. Zéro Tues foi chamado de obra-prima pelo jornalão Le Monde e pela revista pop Les Inrockuptibles, e eleito pelos freqüentadores das bibliotecas de Paris como Livro do Ano. Por isso, antes da entrevista com ele, eu temia sua genialidade: ficaria tão intimidado com seus óculos vermelhos de aro grosso e as dobras impecavelmente sujas de sua calça nova de veludo preto que acabaria pedindo o vinho mais caro do menu e perguntaria aflito: O que acha do carnaval?. Ainda bem que, apesar do sucesso, Régis não é nada metido.
TRIP Como é essa história de brasileiro que escreve em francês?
Régis Meu pai veio para a França em 1960, aos 29. Chegou, deu duro como fotógrafo e tradutor-intérprete e não dormiu em serviço: teve 11 filhos com minha mãe! Mas não se preocupou em nos ensinar o português. Assim, só tomei contato com a língua durante três meses que passei em São Paulo, em 1997, com minha namorada.
Parece que foi durante essa visita que você começou a escrever, não?
Me hospedei no apartamento da minha tia, minha namorada saía para seu estágio e eu ficava só. Bem, você sabe como é São Paulo: fui ficando com a impressão de que era o único desocupado na cidade onde todos estão trabalhando, chegando do trabalho ou indo trabalhar! O que fiz? Liguei o computador e passei horas ali, escrevendo.
Na França, outro brasileiro também faz muito sucesso: Paulo Coelho...
Sempre me recusei a lê-lo: estava tão na moda as menininhas em Paris virem me dizer que ficaram maravilhadas com o Alquimista que me desencorajei!
Texto Guilherme Ignácio Foto Pierre Merimée