Reflexões Acerca da Dor

por Luiz Alberto Mendes em

A dor

A dor muitas vezes me manteve vivo porque me fazia sentir profundamente e tudo de uma vez em seu paradoxismo. Talvez a dor nos aproxime dos outros. Passamos a respeitar a dor do outro a partir do quanto nos doeu. Mas também nos individualiza porque sofrer se sofre sozinho, dentro de si e ninguém pode nos ajudar ou dividir. Quando muito podem nos acompanhar. Mas mesmo assim distantemente. Ninguém nos ensinou a sofrer; aprendemos por nossa conta. E cada à sua moda. Não importa como; é preciso agüentar para sobreviver. Eu a odeio, mesmo detesto e tentei fugir o quanto pude, sem jamais obter sucesso. Mas, mesmo assim, a dor tem sido minha amiga, companheira de muitas horas de solidão e infelicidade.

A tristeza é horrível, mas a pessoa triste me parece bela, linda em sua resistência ou entrega à dor. Só cresci e me desenvolvi porque ela me tangeu e necessitei escapar da roda de fogo que havia me envolvido. O tempo arde, o espaço parece irreversível e o vento deixa profundas dúvidas. Estamos todos marcados pelo ferro quente da incerteza, pelo maçarico do sofrimento e da perda. A dor é como pedra, punho fechado no ar. Um labirinto que a gente só quer fazer desacontecer. O problema é que quase ninguém agüenta e o medo é gosmento e pegajoso.  É uma pressão que alimenta, vazio que devora completamente, o insuportável que temos que suportar e limites que temos que ultrapassar.

Minha mãe, a dor...

“Minha alma é fogo que sofre se não arde...” Stendhal.

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Luiz Mendes

11/12/2009.

 

 

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