REALITY SHOW
Integra da minha coluna da edição de maio/09 da Trip:
Na era da Internet e do Big Brother, por que não transformar a atividade pública em um grande reality show? Câmeras transmitiriam tudo que se passa nos corredores do poder ao vivo e pela web
Como ressaltei na edição anterior, nossa coluna vai mergulhar em cada um dos temas que consideramos cruciais para a construção de uma outra política. Para começar, vamos falar de transparência.
Não resta dúvida de que uma das grandes causas para o nojo e a distância da maioria das pessoas com o universo político é a sensação de que todos estamos sendo constantemente enganados por conchavos e acordos dos mais variados tipos, que acontecem na surdina, entre as quatro paredes de gabinetes ofi ciais. No imaginário da população, a palavra “política” é sinônimo de benefício.
Mesmo os honestos são colocados na berlinda e a desconfiança é geral. A ideia de que qualquer um, mesmo os corretos, em algum momento será corrompido pelo meio é muito presente no nosso país.
Uma outra política, portanto, passa necessariamente por uma revolução de transparência. É preciso que todos possam acompanhar 100% das atividades dos políticos em tempo real para que as desconfianças acabem e a fiscalização real aconteça.
Na era da internet e do Big Brother, por que não transformar a atividade pública em um grande reality show? Em cada sala de cada gabinete, em cada corredor e sala de espera, nas comissões, nos plenários e nos cafés do poder, câmeras transmitiriam tudo que se passa ao vivo e pela web. Quem entra e quem sai, o que é debatido, o que é apresentado.
Não existe meio mais eficaz para combater a picaretagem e fazer o político trabalhar de verdade do que expor todos os seus atos em público, sem espaço para ações que fujam do interesse de quem o elegeu.
SEM CENSURA
Seria a política ao vivo. Dependendo da ética do homem público, ela poderia ser levada às últimas consequências e ir além dos gabinetes e das salas ofi ciais. Assim ela também estaria presente em todas as atividades externas do político, como visitas à base eleitoral, debates, comícios etc. O custo disso é muito baixo, graças às novas tecnologias. E, além disso, seria muito interessante gastar parte das famosas verbas de gabinete para montar a estrutura mínima necessária para gerar essa transparência.
A prática do “tudo às claras” também ajuda no desenvolvimento da democracia participativa. Mais pessoas poderão acompanhar o que se passa e vão se animar a propor e cobrar ações de seus representantes. A resignação e a apatia podem dar lugar a uma nova sensação em relação à política, e até mesmo à beleza (que, acreditem, existe!), no processo de construção de uma lei ou na criação de um novo projeto público, a política poderá ser compartilhada por muitos.
O inglês George Orwell, autor do clássico livro 1984 – no qual o totalitarismo do Estado observa e controla a todos –, ficaria maravilhado com a revolução digital da nossa era. Imaginar que toda essa tecnologia pode levar a um 1984 às avessas, com o povo observando e controlando os passos de seus governantes, é um sonho para qualquer democrata que se preze.
Texto publico na coluna OUTRA POLÍTICA da revista TRIP edição MAIO/09