Quem precisa de Slater?

Equipe do surfista vence o Xgames mesmo sem ele participar da prova

por Carlos Sarli em

Pelo terceiro ano consecutivo, o surfe movimentou a 11ª edição dos XGames de verão nos Estados Unidos. O esporte, um dos últimos a fazer parte da lista de modalidade dos jogos, ganhou novo formato para poder entrar na onda das olimpíadas radicais. Isso porque, por quase dez anos, os organizadores acreditaram que o surfe não tinha características que pudessem gerar duelos empolgantes, e, portanto, interesse de telespectadores.

Tudo mudou quando o surfista Brad Gerlach, antigo competidor do WCT, desenhou a competição nos moldes do desafio de basquete que faz grande sucesso com os americanos: duas equipes "costa leste contra costa oeste neste caso" com quatro tempos de 12 minutos para pontuar. Dez atletas fazem parte de cada time e um técnico pode escalar titulares e reservas, sendo quatro os titulares. Substituições são permitidas ao longo do período. Com esse formato, a ESPN, que organiza os XGames, resolveu incluir o surfe nos jogos, e, para melhorar, este ano trocou as inconstantes ondas de Huntington, na Califórnia, pelos tubos de Puerto Escondido, México.

E, se era rivalidade que eles queriam, ela entrou oficialmente em cena. O fuzuê deste ano começou antes mesmo da sirene inicial, que soou na tarde de sábado, 6 de agosto. Tudo porque, às vésperas do evento, mais exatamente na sexta-feira à noite, Kelly Slater, que era, naturalmente, titular absoluto da equipe do leste, mandou um e-mail para a organização dos jogos dizendo que, por causa de uma forte sinusite, não poderia competir.

Tudo certo não tivesse Gerlach, amigo íntimo de Slater, descoberto que o hexacampeão mundial estava em J-Bay, África do Sul, e decidiu não voltar porque, por lá, o mar estava de gala.

Gerlach, bastante frustrado com o "no show", decidiu punir a equipe do leste não permitindo que Slater fosse substituído. A partir daí, eram nove contra dez. Para quem queria criar rivalidade, estava aberto mais um precedente. Protestos dos atletas da costa leste não foram suficientes para que Gerlach mudasse de idéia. "Slater é meu amigo, mas preciso colocar regras aqui", explicou. Para jogar um pouco mais de drama na disputa era só trazer à tona o fato de que, desde que o duelo teve início, o oeste nunca havia vencido o leste. Diz a lenda que nem na disputa de cara e coroa, que determina quem cai na água primeiro.

A competição, que rolou em ondas de cinco pés em Puerto, enquanto os XGames aconteciam em Los Angeles, a centenas de quilômetros dali, tinha tudo, portanto, para marcar uma histórica vitória da costa oeste (com Shane Beschen, Rob Machado, Taylor Knox no time) sobre a desfalcada costa leste (de Damien Hobgood, Shea Lopez, Jamie O"Brien). Até porque, frustrados com o furo de Slater, os juízes estavam bastante mais simpáticos às manobras dos atletas da costa oeste.

Só que, mesmo com um atleta a menos e com toda essa carga negativa, o leste voltou a vencer, sagrando-se tricampeão do evento. "Não adianta, mesmo desfalcados e sendo roubados, ganhamos. Porque somos melhores, o que vamos fazer?", provocou Hobgood ao final da prova. Para quem queria rivalidade.

NOTAS

Snowboarding: Copa Sul Americana

Confirmando a excelente fase, Isabel Clark ficou em segundo na prova de boardercross, modalidade que competirá nos Jogos de Turim 2006, e também no halfpipe. Felipe Motta, que tenta a vaga para a Olimpíada, ficou em 5º. A Copa foi em Valle Nevado, Chile.

WQS: Japão e Inglaterra

Danilo Costa venceu, garantiu o tricampeonato brasileiro em Akabane e subiu para 14º no ranking, agora liderado por Adriano Mineirinho. Já em Newquay Silvana Lima venceu a etapa britânica e garantiu a vaga para o WCT 2006.

Master Pro Ubatuba

Joca Junior e David Huzadel (gran master) foram os vencedores da prova que reuniu 96 surfistas com mais de 35 anos e comemorou os 18 anos da Abrasp.

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