A culpa, com certeza, do assassinato do menino Brayan de 5 anos na zona leste de São Paulo, é dos assaltantes e particularmente daquele que atirou no garoto. Por mais motivos que se tenha, nada, absolutamente nada, justifica atirar na cabeça de uma criança. Os suspeitos do crime já estão sendo caçados e presos.
Os elementos da própria quadrilha, ao serem capturados, afirmam não entenderem porque e dizem que tentaram matar o responsável pelo disparo no menino. A ira deles é justificada. Agora serão co-autores de um latrocínio, e com o agravante da idade da criança. A pena é de 12 a 30 anos de prisão e a esse tipo de crime, quem esteve preso sabe, a condenação é cumprida. Os juízes não dão trégua; fazem o sentenciado cumprir ao máximo que podem da pena. Negam todos os benefícios. É preciso esclarecer: em caso de benefícios jurídicos (progressão para o regime semi-aberto, por exemplo), o juiz pode permitir mas não tem o dever de conceder.
Mas creio que o que eles mais temem é a população carcerária. Com certeza terão que provar que o atirador o fez por vontade própria e que eles não apoiaram. O preso também tem filhos e não aceita, de modo algum, qualquer tipo de violência contra a criança. O atirador vai ter que chegar na prisão pedindo seguro de vida. Caso consiga sobreviver, cumprirá a pena toda em celas isoladas. Caso tenha coragem e vá para o convívio, não verá o dia seguinte; será barbaramente morto. Terá contato somente com os guardas e outros assegurados. O medo, o pavor, o acompanhará até que saída da prisão, caso consiga. Nunca mais será o mesmo. Sempre que houver rebelião na prisão, sua vida estará por um fio. É isso que seus comparsas mais temem: serem responsabilizados igualmente.
Mas vamos sair do linear e nos aprofundar um pouco nessa tragédia. A família foi atraída para o Brasil por conta da oferta de emprego em pequenas fábricas e oficinas de confecções clandestinas na região do Brás e da Mooca. Oficialmente se estima que cerca de 250 mil bolivianos estão vivendo ilegalmente na cidade de São Paulo. Trabalham nessas confecções cerca de 12 horas por dia para ganhar menos que um salário mínimo e sem qualquer garantia trabalhista. Mesmo vivendo com tão pouco e trabalhando em condições de semi-escravidão, ainda assim consideram que estão tendo oportunidade de melhorar de vida.
Essa pobre gente, por estar clandestina no país não pode, entre outras coisas, ter conta de banco. A casa em que morava Brayan e sua família, já havia sido assaltada por duas vezes pela mesma quadrilha. A polícia afirmou à reportagem que há quadrilhas especializadas em assaltar esta gente. Eles não podem sequer ir à delegacia denunciar; serão presos como ilegais no país.
Mas, até agora não ouvi ninguém falar sobre a responsabilidade de quem tira lucro com uma desgraça dessas. Os atacadistas de roupas que terceirizam a produção para reduzir custos. Esses mesmos que fazem a oferta e organizam a procura. Pagar trabalhadores sindicalizados, registrados em carteira e com todos os benefícios diminuiria o lucro deles. A ambição desmedida faz com que busquem mais lucro a qualquer preço e no caso em questão, explorando o trabalho de imigrantes ilegais. O brutal assassinato de uma criança proveniente de uma das centenas de famílias que vivem clandestinas no país é apenas uma das consequências desse jogo sujo do lucro a qualquer custo.
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