Pudim de pinga
Uma tecnologia revolucionária despontou para o mundo nos anos 70: o Fiat 177 a álcool
Em plena crise do petróleo dos anos 70, um carrinho de aparência frágil, equipado com uma tecnologia revolucionária, despontou para o mundo: o Fiat 147 movido a álcool
Na balada cíclica do capitalismo, a palavra “crise” é alardeada de tempos em tempos. E com ela vem a consequente busca por soluções... Na década de 70, durante a famosa crise mundial do petróleo, a busca estava nas pesquisas de combustíveis alternativos à gasolina. A saída foi atacar de Pró-Álcool, programa lançado pelo governo em novembro de 1975 para incentivar o uso do etanol como combustível.
Coube ao Brasil a tarefa: apresentado em 1979, o Fiat 147 tornou-se o primeiro automóvel a álcool do mundo produzido em série. Um carro, aliás, com cacoetes bem brasileiros: apelidado de Cachacinha, subiu e desceu os 365 degraus da escadaria da Penha em seu primeiro comercial na TV tupiniquim, em 1976. E nem assim pagou seus “pecados”: dono de invejável estabilidade nas curvas e precursor de diversos conceitos e equipamentos até então desconhecidos por aqui, o modelo acabou estigmatizado por sua aparente fragilidade – puro preconceito por conta de seu tamanho, 40 cm menor que um Fusca.
Preconceito, por sinal, que os atuais proprietários ainda lutam para vencer. “Em 2001, ganhei o modelo como herança de família e tentei frequentar o encontro de carros antigos que acontecia na praça Charles Müller, em São Paulo”, conta o professor de história Daniel Carlos Clemente, 28 anos (na foto, com seus 147 real e de brinquedo ). “Mas o organizador nunca me deixava entrar. Ele dizia que o 147 não era antigo, e sim velho. Um dia, de tanto eu insistir, ele zombou e falou que me deixaria participar no dia que existisse um clube para o modelo.” Dito e feito: Daniel é hoje presidente do Clube do Fiat 147, que ele mesmo fundou. Ele conta com outros 80 sócios e recebe telefonemas de vários organizadores com convites para os encontros de automóveis antigos. Prova de que toda crise, por pior que pareça, um dia passa.