Com um olhar crítico, uma idéia na cabeça e uma lata de spray na mão, o grafiteiro norte-americano Kaws azucrina o mundo da publicidade ao imprimir sua arte sobre propagandas
Autoridade é uma coisa estranha quando a gente acha que eles não estão certos, diz Kaws, um grafiteiro de 25 anos que espalha seu trabalho por metrópoles como Nova York, Los Angeles, Paris, Tóquio, Hong Kong, Berlim e Cidade do México. O que ele faz é ilegal: rouba cartazes de propaganda, leva-os para casa e lá inicia suas intervenções. Horas mais tarde retorna o material, já alterado, aos mesmos lugares de onde tirou. Em sua estética, Kaws abusa de espermas com ossos na cabeça que abraçam, perfuram, cobrem e interagem com os modelos caríssimos das campanhas de marcas famosas como Guess, Giorgio Armani, DKNY, Diesel, Calvin Klein, entre outras. Até agora ele já fez 40 dessas intervenções que, graças ao estado de alerta das agências de propaganda, nunca ficam muito tempo em exposição. As empresas que cuidam dos cartazes sempre dizem que estão guardando as imagens como prova. Minha fantasia é que eles coloquem todas no tribunal – seria a melhor exposição de todos os tempos.
Mesmo underground ele já desponta para o estrelato, tanto que alguns estilistas antenados nas tendências provenientes das ruas já o sondaram para produzir campanhas oficiais – é o caso da Diesel e da Guess.
Leia a seguir a entrevista que ele concedeu, via internet, à TRIP:
TRIP: O que você pretende com o seu trabalho?
Kaws: Só quero que as pessoas entendam que sou um cara normal que está fazendo apenas aquilo que o deixa feliz. Se uma pessoa vir meu trabalho na rua e sorrir, ou ficar confusa, ou odiar, para mim isso é bom, porque fiz com que ela pensasse um pouco mais sobre as coisas que a rodeiam – e também porque quebrei um pouco de sua rotina diária.
TRIP: Como você vê a relação do seu trabalho com a propaganda
Kaws: Eu penso no meu trabalho como algo que apenas interrompe a mídia.
TRIP: Quando você teve a idéia de intervir na publicidade usando seu trabalho?
Kaws: Pintei pela primeira vez sobre um anúncio em 1993, sobre um cartaz do rum Captain Morgan. Queria ter meu trabalho exposto numa grande locação. Mas enquanto pintava nele, decidi incorporar meu trabalho aos cartazes de propaganda em vez de apenas pintar sobre eles.
TRIP: Como você vê o fato de o mundo da moda estar incorporando o seu trabalho ao invés de repudiá-lo?
Kaws: Eu não sei… Admiro os fotógrafos que estão envolvidos nessas peças de propaganda, as coisas que eles fazem são maravilhosas, eles me abastecem com uma ótima matéria prima para trabalhar em cima. Me sinto como se tivesse colaborando com eles, mas é claro que isso só acontece na minha cabeça. É uma grande responsabilidade, também. De uma hora para outra você está participando de uma campanha de 10 milhões de dólares – sendo que eu só gastei 3 dólares para botar meu desenho em cima daquele cartaz.
(por Moacyr Vieira Martins)
