O quanto a comida fala sobre um povo?

por Marília Dissenha

As imagens documentais do Projeto Evoé unem a visão de um fotógrafo e de uma nutricionista sobre a cultura alimentar

Um fotógrafo do sertão da Paraíba e uma nutricionista do litoral do Paraná decidiram juntar suas profissões e partiram para uma viagem de um ano com um questionamento: Já parou para pensar o quanto a comida fala sobre um povo? O fotógrafo, Leonardo Salomão, já tinha trabalhado com povos tradicionais e com fotografia de viagens; a nutricionista, Daniella Schuarts, com agricultura alimentar e com ajuda humanitária. Da união, surgiu o Projeto Evoé, que retrata, por meio de imagens documentais, as singularidades e as belezas da relação entre o ser humano e seu alimento.

A primeira incursão do Evoé, entre 2015 e 2016, durou 365 dias e os preparativos para a expedição começaram três anos antes, em 2012. Foi uma viagem de baixo custo por oito países da África e da Ásia – África do Sul, Zimbabwe, Zâmbia, Tanzânia, Kenya, Índia, Nepal e Tailândia – e incluiu tanto grandes cidades quanto vilas remotas. A escolha das regiões, segundo Daniella, foi um caso de amor antigo: “Começamos por lugares que tínhamos curiosidade de conhecer, e também por vir da África grande parte da nossa identidade como brasileiros”.

“Nos seis meses que viajamos na África, dormir entre elefantes e hipopótamos virou uma rotina”
Daniela Shuarts

O orçamento limitado não impediu o desenvolvimento do projeto, mas, aumentou as aventuras. “Acabamos acampando em lugares nem sempre seguros. Nos seis meses que viajamos na África, dormir entre elefantes e hipopótamos virou uma rotina. Passagens por hospitais e até ameaça de morte foram parte também”, diz Daniella.   

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O casal explora o tema da cultura alimentar de forma ampla, desde o cultivo e do preparo até os comportamentos e a relação familiar dentro das cozinhas e ao redor da mesa. É preciso paciência e sensibilidade para alcançar o envolvimento que buscam nas comunidades. “Temos que conquistar a confiança e o afeto daqueles que nos recebem, o que pode demorar dias ou semanas”, conta a nutricionista. “É um processo muito natural e instintivo – a comunicação não verbal sempre comandando, já que na maioria desses lugares só se fala o dialeto local. Tudo isso demanda tempo, então, quando nos despedimos de uma família, já fazemos parte dela.”

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O projeto já conquistou reconhecimento internacional e foi selecionado em três categorias do concurso Food Photographer of The Year 2017. No ano passado, no mesmo festival, recebeu o terceiro lugar na categoria “Alimentos à venda”.

Leonardo e Daniella estão em busca de recursos financeiros para um novo projeto: realizar o Evoé em um país que é praticamente um continente e no qual hábitos e costumes se transformam em poucos quilômetros, o Brasil. Daniella explica: “Queremos desenvolver o projeto em todos os estados brasileiros, mas viajar por aqui tem um custo muito alto. Estamos montando uma exposição e queremos apresentá-la de forma itinerante”.

Vai lá: projetoevoe.com

Créditos

Imagem principal: Leonardo Salomão

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