Prazer de ser o que sou

"Tento me reinventar a cada novo texto. Não suporto me repetir."

por Luiz Alberto Mendes em

Estive lembrando e cheguei à conclusão de que eu sempre quis ser escritor. Desde os primeiros livros que li, invejei os autores em suas habilidades em recriar a realidade por escrito.

Tínhamos tempo para nos imaginar em todas as situações que aconteciam ao nosso redor. O cinema e o sinal da televisão eram com um intervalo maior, podíamos ser o que quiséssemos, embora eu sempre tenha torcido para o bandido e para o touro. Hoje tudo funciona de modo a que todo sinal seja impulso. As cena hoje são rápidas demais para nos permitir interação com personagens, não termos mais grandes heróis. Tudo vem pronto e embalado para o consumo, tipo McDonalds.

Em escrever. Em sentir uma idéia, entender, definir para mim e como funciona comigo. Tento me reinventar a cada novo texto. Não suporto me repetir. Cada dia essa prática se torna mais difícil. Tudo que principio exige novos contextos, como se tudo tivesse que ser reaprendido. O aprendizado jamais termina. Alias, se me perguntassem agora sobre qual a finalidade da existência, responderei que é aprender.

Ama amplitude que é quase uma expansão. O que antigamente chamava-se aprender, hoje é leitura. Temos a nossa leitura de mundo, ler hoje é observar atentamente e para mim, num segundo momento, apreender tudo com que nossos sentidos e nossa imaginação podem abranger da existência. Fecho os olhos e enxergo o universo dentro e fora de mim. Se os olhos são as janelas da alma, então temos outros olhos para ver: pois janelas não enxergam.

Corrigindo a falta de poesia e emoção que não se dão todos os dias. Gosto de poesia. Não essa de livros. Gosto da declamada, do coração escancarada. Ou então as imagens que me surgem como que do nada e vão se estruturando na ponta de meus dedos. Queria mesmo me comunicar com cada pessoa de modo perfeito. Como se pudesse convencê-las do afeto que guardo por elas.

Tudo e todos me importam. Gostaria, sinceramente, de fazer melhor. Mas como e continuar a ser eu mesmo? Para mim viver é sobrevivência ainda. Existir é longo demais. Então me resta resistir e tentar ser recíproco. Tudo acontece com o instante, sem segundas chances. Às vezes acho que a vida Naquele tempo as coisas aconteciam mais lentamente.

Restamos nós aqui, para vivenciar o prazer em ser. Tenho prazer. O aprendizado jamais termina. Hoje a leitura assumiu para mim Penso que meus texto me trazem imagens mais completas, O caso é que sou existente; não me escondo atrás de nada. E repudia quem a reinicia. Mas encontrei as fendas no rochedo e tenho escalado como sei. Acho que quem me lê colabora com isso. Como? Oras, gostando do que escrevo. É o fato de que tem pessoas que gostam do que escrevo que me mantém escrevendo, apesar de.

Legal ser chamado, mas uso muito pouco e sempre a contra gosto essa expressão, com relação a mim. Me soa fanfarronice. Claro que nessa caminhada e com todo apoio que recebo, me tornarei mesmo um escritor.

Vai ser lindo. Mas, em me conhecendo como conheço, vou ainda inventar vários nomes para o que faço, antes de reconhecer que me tornei um escritor de fato. Mas com prazer de ser eu mesmo, assumirei essa glória!

em uma coisa só: melhor do que sou. Almejo crescer. Não para que ninguém se de conta de mim. Sei que não darão. Mas quero ser um grande conversador, um grande leitor e um grande contador de história. Em suma, um escritor.

Embora a vida seja tão volúvel quanto à água. Enquanto estou distante de meu ideal, vou aqui resfolegando em minha combustão interna. Reconheço que a traição e a deslealdade tem sido uma intimidade mais estável em nossa história do que a lealdade e a fidelidade. Mas eu me atrevo a pensar que ainda terei tempo e espaço para me fazer muito diferente da perspectiva Acho que vou formando de mim alguém que escreve. Escritor é.

Há pessoas que são boas em algumas coisas. Eu quero ser bom. As conjunções parece que vão se alinhando em minha direção. Estudo, pesquiso, leio e penso muito. O conhecimento, a cultura e a educação não pesam. Muito pelo contrário. Esvaziam. Pelo menos de qualquer pretensão de ser melhor que os outros. Amigos, projetos, livros, trabalho, formam a melhor parte de mim mesmo. Só posso ser muito grato e humilde pela herança que a vida têm me acumulado.

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