Por isso escrevo

Essa cega obstinação de persistir quando o sonho já se foi

por Luiz Alberto Mendes em

Estou sentado no pátio dessa penitenciária pensando e observando. Alguns companheiros andam para lá e para cá conversando, outros sós. Alguns grupos pequenos jogam dominó no fundo do pátio. No galpão, jogo de damas e parceiros a pensar, com os olhos perdidos sabe-se lá onde. Parece, tudo quer se desmanchar ao toque de meu olhar. Nada permanece, tudo flutua entre a claridade do sol e a ausência das estrelas. São pessoas que vivem suas vidas interiores em separado da minha. Que sofrem suas dores, suas imensas dores e rigor de seus caminhos de ferro. Como eu, ainda, ainda...

Há riquezas e possibilidades incalculáveis. São senhores de céus e do nada. Talvez nem saibam que o amor é amor, mesmo quando tudo parece que é dor. Homens sem sombras. Que andam ou pensam a esmo, escravos de um sonho de liberdade que gela e agasalha. Pessoas, potenciais sacrificados, de repente quis morrer para o que vejo e não posso deixar de amar.

Tempo perdido. São buscas de enganar o tempo ou a si mesmos. Jogos e palavras que não valem suas vidas cansadas de espelhos quebrados. Essa cega obstinação de persistir quando o sonho já se foi.

Cada qual com seu destino e suas pedras. A vida vai passando e o tempo ficando para trás e à frente, sempre. Contamos os dias, vivemos lembranças antigas como a lua e o sol. Quantos anos faltam para que cada um deles alcance o que lhe é predestinado?

Eles andam, eu escrevo e somos o suor e a poeira do pátio que impregna nossos corpos. Tudo nos torna tão iguais e diferentes ao mesmo tempo. Eles têm objetivos, sonhos, por isso jogam e conversam.

Eu tenho a realidade, papel e uma caneta, por isso escrevo.

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