POESIAS...

por Luiz Alberto Mendes em

Tentando poesia.

 

Espesso, em febre, devasso como uma vadia

Roubo do tempo esse instante insólido

E, como mendigo exibo minha sordidez.

Fiel ao pecado de ser diante da consciência ameaçadora

Pesado, volto à antiga caminhada.

O metal duro da vontade me faz seguir

Sem medo algum, por entre céus e infernos

Insolente e atrevido.

Voraz, o que não me coube, o desconhecido

O que não pude repartir entre suores ou lágrimas

Esse mesmo é que me fascina

Dentro dessa treva pura que represento ser.

 

                                     ***

 

Escrevo sempre aquilo que devia gritar

Remeto-me embora permaneça impermeável

Vivo, seco, sempre tendo algo por dizer.

Como um vulto, sigo desconhecido e irremediável

Nada me assusta, nem de repente

Tudo me parece feito para consumo

E eu aqui, estabanado

Como uma mãe aflita.

 

                                     ***

 

Tudo parece acontecer

Como se estivéssemos esperando a vida

De banho tomado para sair.

 

                                      ***

 

Todos vivem a quilômetros de minha solidão

Só eu me acolho em meu coração

E me afogo porque molhar os pés nunca bastou

Mergulho, me jogo

E só paro quando a vida me para.

 

                                      ***

 

Agora pouco acordei e o dia me apanhou

Ainda com sono e se oferecendo em todo seu mistério

Lá vou eu ver o que acontece.

 

                                       ***

 

Mais de uma vez escutei

Estupidificado

Um gemido por dentro da escuridão

E me assustei

Ao perceber que era eu quem gemia.

 

                                       ***

 

O medo cresce na medida exata

De que somos capazes de imaginar

O que pode nos acontecer daqui para frente.

Medo é futuro.

 

                                        ***

 

Mães choram seus filhos mortos

Meninas vendem seus corpos

Meninos vagam pelas ruas

Ou fazem malabarismos nos faróis

Jovens superlotam as penitenciárias

Velhos de almas vazias

Estão abandonados nas praças e parques

E não estamos em guerra

Apenas o homem não aprendeu a andar

Com o próprio homem

E coitados daqueles que não sabem voar.

 

                                          ***

 

Enquanto o coração ensaia flores

Os olhos estão repletos de visões deploráveis

Mas, mesmo assim não varro meus delírios

Para debaixo do tapete;

Eles não estão sujos.

 

                                           ***

 

À uma certa pessoa.

 

Não busque em mim

O que possa encontrar em qualquer outro

Que esteja ao alcance de seus dedos

Ou lábios.

Os que se casam são mais românticos que eu.

Não posso ser de pequenos acertos

E me ocupar só de você.

Amo, amo muito e nisso pouco penso

Nada chega ao meu entendimento

Não entendo, mas quero ser livre

Para poder chegar a entender.

Aceso e sem formato, além de qualquer conceito

Aceito, aberto e incorreto

Sem nomes

Subscrevo-me.

 

                                         ***

 

Não me deixo resumir

Não posso ser abreviado

Sou extenso, amplidão é meu destino.

 

                                         ***

 

Luiz Mendes

25/09/2009. 

 

 

 

 

 

 

 

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