Poemeto e comentários do cotidiano

por Luiz Alberto Mendes em

Despedida

Cavem meu túmulo com pás e enxadas

Não deixem que as máquinas se intrometam

Com minha última morada.

E digam que nada nessa vida me deixou satisfeito

Que fui tão infeliz e feliz quanto pude.

Coloquem meu corpo em caixão barato

É tudo que ele merece.

 

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Vivência

 

Recente me perguntaram se não tenho receio, expondo quase que diariamente o que escrevo, de ser plagiado.

Respondi que primeiro, é uma honra ser plagiado. Só se plagia o que se aprova e admira. É quase um indicador de sucesso.

Segundo, há algum tempo fui convidado a ir para Parati fazer uma reportagem para a Trip. Fiquei hospedado na Pousada do Sandi. É o que há de melhor em termos de hospedagem por lá. O chefe da cozinha, californiano típico, vem à mesa explicar o que fez e como fez as iguarias que irá nos servir. Depois procura nossa opinião sobre gosto, tempero e prazer do que comemos.

As mulheres, haviam outras pessoas convidadas, pediram receitas, que ele deu de boa vontade. Uma delas, repórter curiosa e atilada, perguntou se ele não tinha receio que copiassem e se apropriassem suas receitas. O sujeito respondeu com toda tranqüilidade do mundo que cozinhar para ele era arte. Um artista é alguém que esta sempre em busca de criar o novo, inaugural. Então, não se apega ao criado porque esta preocupado em criar o inédito.    

Sigo essa linha, embora não me considere um artista. O importante é ser capaz de criar, inventar algo que seja surpreendente até para mim. O primeiro leitor do que escrevo sou eu mesmo. Tem que me agradar, senão não segue adiante. E olha que sou metido a perfeccionista.

Se me plagiam não me incomoda nem um pouco. Estão um passo atrás, fazendo o que já fiz. As informações e habilidades vão se acumulando em mim e quanto mais crio, mais me capacito a criar.

 

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 Otário

 

Outro dia um desses moleques crescidos que parecem esticado de tão magros, quase me atropela com uma motocicleta e ainda me chamou, acintosamente, de “otário”. Nós nos encontramos sempre; ele mora aqui perto. É desses que vivem cercando os pontos de vendas de drogas para que os compradores o levem para uma “narigada” gratuita, me informaram.

Não me conhece, não sabe de meu passado e me avalia pelo meu presente. Esta me vendo ir comprar pão de manhã cedo, passeando com Chicão, meu cachorro, no supermercado e pelo bairro, sempre só e quieto. Acho que sou comum, nada me destaca para ele e por isso me tira por “otário”. Outrora aquela seria uma ofensa dessas irreparáveis. Exigiria reação imediata e contundente. No mínimo o jogaria com moto e tudo no chão e esperaria reação para quebrá-lo com vontade.

“Otário” é o oposto de “malandro”. É o trouxa que o ladrão rouba e nem pode reclamar. É como se eu, o “otário”, estivesse atrapalhando a passagem dele, o “malandro”. Pelo visto, teria que abrir caminho sempre que o visse passando; achava-se no direito de prioridades.

Pois é, mas agora me fez pensar e até sorrir. De repente me senti vitorioso: eu havia conseguido! Até os malandrecos do bairro reconheciam: eu sou um “otário”. Não é magnífico? Depois de cometer os crimes mais reprováveis; pagar caríssimo por tudo isso; consigo dar a volta por cima e me tornar uma pessoa comum, um “otário”. É a glória!

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Luiz Mendes

01/12/2009.

Obs. Hoje estarei fazendo palestra na Defensoria Pública de São Paulo para jovens defensores públicos que estão se formando.

Amanhã, estarei fazendo palestra na Defensoria Pública do Rio de Janeiro dentro de um evento que vai comemorar parece que 20 anos de Defensoria Pública no Rio, depois me informo melhor e digo.

                                    

 

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