Plantando a semente
Carlinhos Zodi lança o disco independente Mundo Mais Bonito
Carlinhos Zodi pode até fazer transparecer a figura de um sujeito tranqüilo, que gosta da calmaria do mar e da companhia de um violão. Quem conhece Zodi pelo seu disco Mundo mais bonito não imagina que o pacato cidadão transborda idéias a todo momento. Videomaker, surfista e músico, Zodi largou a carreira promissora dos vídeos e decidiu continuar com seu projeto de deixar o ambiente em que vive mais agradável. Depois de engavetar temporariamente um projeto de música instrumental, agora o músico lança seu disco, com tiragem de 15 mil cópias, que ele faz questão de entregar gratuitamente, de mão em mão. Conversamos com Zodi, por telefone, para que ele explicasse melhor sua nova empreitada.
Trip Depois de anos trabalhando com vídeo, você deve estar orgulhoso de ver seu trabalho como músico lançado?
Zodi É a conclusão de uma etapa e fiquei bem feliz com o resultado. Larguei a história de vídeo num momento em que eu já tinha uma carreira consolidada, várias propostas de emprego, e fui tocar uma história para a qual eu fui levado pelo meu ideal. Fiquei a fim de fazer música e resolvi trilhar profissionalmente num lance que eu fazia como hobby.
E ter um estúdio de gravação na sua casa ajudou bastante nesse processo?
Na real, o disco não saiu do estúdio de casa, as composições sim, tá ligado? A gravação em si saiu de um estúdio tipo primeiro mundo. Toda a sonoridade e a qualidade que tem lá vêm de um equipamento da pesada, um produtor da pesada, um engenheiro de som que tem um know-how fabuloso. Eu jamais conseguiria tirar essa sonoridade no estúdio aqui de casa, tem outras pessoas envolvidas, e é muito louco ver o caminho que sua música vai ganhando ao longo do processo.
Carlinhos ZODI - Mundo Mais Bonito
E não rolou ciúme de ver suas composições prontas serem alteradas por outra pessoa?
O que aconteceu foi que eu encontrei um cara que bateu o santo. Antes de começar o processo de tomar decisões, levei ele na minha casa e disse: “Primeiro você precisa entender o que é o Zodi”. Aí ele foi lá em casa, eu botei ele deitado na rede, fiz um chá, coloquei uma cacetada de filme de surf para ele assistir, fiz um processo condensado para ele entender o meu universo. Depois que ele entendeu, pegou o conhecimento que tinha e tirou umas sonoridades além do que eu pensaria, levou para um lado que achei bom. Então não teve muita ciumera, pois o cara teve uma liberdade de criação absurda, não foi um processo egoísta.
Como foi que surgiu a participação do Marcelo D2 na faixa “Homem”?
A gente estava nesse processo inteiro do disco, de selecionar qual música entra, qual sai, em que lugar ela entra... É igual editar um vídeo, você vai colocando os elementos de acordo com a sensação que quer passar. E tinha essa música, que é a última do disco, bem mais pesada e forte do que costumo fazer, e em certo momento surgiu o nome do Marcelo. Liguei pra ele e mandei, só que o cara nunca tinha tempo para gravar e isso foi me dando uma agonia, o tempo foi passando [risos]. Demorei pra finalizar esse disco...
Quanto tempo?
As quatro primeiras músicas já estavam prontas desde novembro do ano passado [2007], depois terminei as outras. Demorei um ano e meio. Foi uma jornada, tá ligado? Mas foi um tempo bom para madurar a história inteira.
O skatista Bob Burnquist e o músico fazem um som e falam da importância da música positiva e do festival Power to the Peaceful
Quem não conhece sua história vai achar que o disco é só mais um trabalho de um surfista que resolveu pegar um violão e tocar. O que acha disso?
Cara, na real?, tem isso sim, mas tem uma outra história que eu acho que transparece no disco. É uma coisa feita porque eu gosto, não por obrigação, sempre fiz os projetos que queria. A minha música faz transparecer um ideal que tenho desde que me conheço por gente, que é utilizar minhas ferramentas e recursos para fazer a minha parte por um ambiente melhor ao meu redor. É algo totalmente despretensioso.
Quais artistas te influenciaram nesse disco?
Ben Harper, que comecei a escutar quando tinha 17 anos. Não sei se transparece, mas Gilberto Gil também, que é uma referência pra mim, e pode até parecer clichê, mas Bob Marley me influenciou bastante. Não consigo parar de escutar, cada hora você descobre uma faceta nova dele. Ano passado eu consegui umas músicas demos de alguns discos e voltei a escutar Bob como se fosse a primeira vez.
Das 12 músicas do disco, tem uma de que você mais gosta?
Uma que tem uma história forte e que marca a transição de quando abandonei minha carreira de vídeo é “Pára o mundo”. Quando eu estava em um cargo superburocrático na MTV, coordenava uma equipe de uns 15 funcionários e sempre fazia reuniões para assistir vídeos, me divertir, dar referências e incentivar o pessoal, e uma menina começou a sindicalizar a galera, mobilizar por melhores salários e tal. Apesar de eu concordar com ela, tive que chamar ela na minha sala e bancar o chefe, colocar a garota no seu lugar. Ela começou a chorar na minha frente e tudo mais, e quando cheguei em casa me sentia um lixo, pois concordava com ela e tive que fazer aquilo. Foi aí que a letra veio, “pára o mundo, que eu quero descer, a culpa não é minha, não é sua...”.
Como é essa história de que você tem um disco instrumental?
O meu retorno pra música foi através do Projeto Música Bonita. Peguei uma grana que iria reinvestir na minha produtora, comprei um monte de instrumentos musicais e uma mesa de gravação, voltei a tocar e fazer música intensamente. Em dois meses tinha um disco que compilei, comecei a vender e reverter a grana pra caridade. Comprava coberta, levava comida para alguns lugares, fui plantando a sementinha de um mundo mais bonito. Esse projeto eu ainda vou tocar mais pra frente, assim que encaminhar minha nova carreira.
E quantas cópias foram prensadas do disco novo?
Oficialmente, 15 mil cópias. A idéia é viajar pelo litoral do Brasil, do Farol de Santa Marta (SC) até o Rio de Janeiro fazendo shows e entregar ele de graça de mão em mão.
Você, como músico, acha que a internet atrapalha ou ajuda?
Cara, a internet é uma ferramenta a mais, não acho que seja a salvação. Acho o discurso de que ela é a salvação algo demagogo. Se você quer viver de música, pagar suas contas, a internet não te salva porque ela só é mais um veículo.