Perdas e Ganhos por Luiz Alberto Mendes em 06.03.2014 Jogando…Às vezes tenho a convicção de que faremos absurdos, se nos for permitido. Somos insensatos, possuímos pouca lucidez. Quase tudo me parece muito além de nosso entendimento. Percebemos pequena parcela do que realmente acontece em torno de nós. Estamos restritos a nós, e quão pouco sabemos sobre nós... É fácil demonstrar que temos ido muito pouco além de nossas possibilidades. Nos permitimos, somos condescendentes e vivemos a nos absolver de nossas iniquidades. Alguns escaparão. E não farão muito sucesso; a história não deixa dúvidas quanto a isso. Quase todas as exceções foram massacradas, torturadas, envenenadas e até crucificadas.As coisas parecem flutuar ao acaso. Um caos que se organiza precariamente, cheio de questões cruciais sem respostas definitivas. O jogo é a demonstração mais evidente desse caos organizado a que estamos atrelados. É o abstrato concretizando-se a partir da mente humana, ao acaso do jogo. Depois de mais de três décadas distante do convívio social, foi uma surpreza perceber o quanto as pessoas estão jogando. É uma compulsão transformada em hábito. Quase todo mundo joga no país. Loteria Esportiva, “raspadinha”, Loteria Federal, quadra, quina, megasena, loto, rifas (rifa-se tudo; de carro a chinelo de dedo.), nas inúmeras casas de Bingos clandestinos esparramadas pelas cidades, nos cassinos cada vez menos clandestinos (todo mundo sabe onde tem), nas apostas individuais, corridas de cavalos, cães e até de ratos. Há pequenos balcões de jogo do bicho em qualquer boteco ou birosca. Há muito que a polícia deixou de persegui-los para acharcá-los. O tráfico de drogas rende exageradamento mais. Ser bicheiro perdeu o glamour; hoje o dono do jogo é um executivo, como outro qualquer. Os praticantes do crime são cada vez mais operários que qualquer outra coisa. Quase batem cartão. Não há nada mais escondido, tudo esta para que todos vejam. Faz parte do marketing; só quem é visto é lembrado. Nem quero falar sobre a maior concorrência que os traficantes hoje enfrentam, para negociarem suas mercadorias. Isso é mais que sabido. É também na cara de todos que são negociadas as permissões, concessões e cargos entre aqueles que têm sobre seus ombros a responsabilidade de comandar a nação. Hoje temos todas as categorias dentro dos presídios. Juizes, promotores e pasmem; até políticos (se bem que gozem de privilégios) estão cumprindo pena atualmente. Depois da pesquisa que realizei com os jogadores compulsivos que conheço, conclui que eles sabem que perdem muito e ganham pouco e não se importam. A expectativa do prazer de ganhar é o que interessa. Parece que a intensidade do prazer de ganhar é maior ou menor, de acordo com a proporção das vezes que se perdeu. Não fora assim, então como é que se explicaria as filas nas casas lotéricas dobrando as esquinas, a multiplicação das bancas do jogo do bicho e das rifas? E insistem, dia após dia, ano após ano. De vez em quando dão uma “sorte” e ganham. Não importa a quantia, isso é estímulo suficiente para que joguem o resto da vida. O prêmio não é tão importante, já que comparado ao montante perdido anteriormente, será sempre irrisório. Importante é a emoção de ganhar. De ser o ganhador, essa figura exponencial em nossa sociedade.Há quem diga que o jogador se auto pune ao perder. Não creio. Viver aquele momento único de coração suspenso na esperança de ser o ganhador, deve realmente mexer com a alma humana. Com certeza, as derrotas ficam no passado. As vitórias e ganhos são o presente perseguido por dentro dos sonhos. Depois de tantas perdas (e todas perdas da vida ficam ai associadas), ganhar assume importância que transcende ao valor do ganho. O passado não existe mais; tudo é fundamental, mas apenas no presente.Na verdade, vivemos sob o império do presente. Temos o passado como pano de fundo e o futuro como refém, a mercê do presente. **Luiz Mendes__________05/03/2014. Arquivado em: Trip