Pequenos Textos

A distância do que é para o que não é, é bastante imprecisa. Quanto à moral, por exemplo

por Luiz Alberto Mendes em

Pensamentos expressos

 

A distância do que é para o que não é, às vezes, é bastante imprecisa. Com relação à moral, por exemplo. Há um século o homossexualismo era tido e havido como errado. Era encarado como doença por uns e de safadeza pela maioria. Hoje as liberdades são mais amplas e preconceito diminuiu sensivelmente. Há até quem tire vantagens do fato de ser gay atualmente. De verdade as idéias de justiça são apenas artefatos do costume. Quando os princípios se modificam, os princípios de justiça estão condenados. Tudo é eterno, como a marca do tênis ou da calça da moda.

 

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Será que, como queria Freud, ser gentil, generoso e bom; ou cruel, grosseiro e maldoso, é uma questão de acidentes da infância? As qualidades ou dificuldades do ser são dádivas do acaso? Não creio. É claro que também não creio nas doutrinas e filosofias religiosas. Os postulados religiosos já não conseguem nos enganar mais. A ciência, a filosofia, o conhecimento acumulado pelas gerações anteriores os tornaram profundamente questionáveis.  Eu acredito que antes de tudo esta o ser. Aquele capaz de se fazer melhor ou pior a partir do que se fez dele.

 

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De repente fico sabendo que nada pode nos tornar à prova do que vai acontecer.

 

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Nós prosperamos em condições condenáveis pela moral. A paz, progresso de uma geração, parece sustenta-se sobre as injustiças e crueldades das gerações anteriores.

 

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Estamos tão perdidos que chegamos ao ponto de imaginar que o prazer só pode ser intenso de verdade se junto estiver a sensação de estar fazendo algo imoral.

 

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Nós que enfrentamos o improvável, sabemos que as qualidades que tanto valorizamos por palavras, não resistem aos enfrentamentos da vida ordinária. O livro “O Príncipe” de Machiavel há muito vem sendo detratado como imoral, calculista e antiético. No entanto, é seguidamente lido, estudado e esmiuçado. Inúmeros estudos e teses foram inventados a partir das “verdades” maquiavélicas. Alguém sabe me dizer por quê?

 

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Filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes e até Marx, acreditaram que a consciência é a nossa própria essência. Viver bem para eles é viver como um indivíduo plenamente consciente. Nossas ações, então, serão produto de nossa escolha e tudo o que fizermos será feito por razões que conhecemos. Mas, hoje a ciência prova que a consciência conta muito menos no esquema das coisas do que nos fizeram acreditar. A consciência tornou-se uma variável e não uma constante, e parece que essas flutuações são fundamentais para nossa sobrevivência. A maior parte do que percebemos não vem da observação consciente, mas de um contínuo processo de escaneamento inconsciente que efetuamos. Como organismos vivos, processamos cerca de 14 bilhões de bits de informação por segundo. A faixa de onda em que opera nossa consciência é por volta de 18 bits. Temos acesso consciente a apenas um milionésimo do que usamos de informações para sobreviver. Como conviver com as “verdades” antigas diante das novas descobertas? Quer dizer que não chegaremos à plena consciência e que, portanto, a promessa de viver bem que nos ensinaram foi um engodo?  O que fazer então? O que vão nos ensinar agora?

 

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Luiz Mendes

22/09/2009.

 

 

 

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