Pensar País e Amar Nação
Não há Heróis
Sempre soube que não há heróis nesta vida. Nem santos, inocentes (salvo as criançinhas) e muito menos puros. O que existe somos homens e mulheres, nós, seres humanos e tão somente. E nós somos capazes de atos heróicos, desprendimentos e abnegação total. Claro, não duramos assim. Logo voltamos às mesquinharias da rotina comum do cotidiano.
Mas somos capazes até de sacrifício, de dar nossa vida por uma idéia. Podemos dedicar nossas vidas ao bem comum. Muitos de nós já o fizeram e alguns fazem. Como podemos até ser transformados em homens-bomba.
Três pessoas, Rosemary Minson, Paulo de Oliveira e Raimundo Medeiros se reuniram tendo por motivo indignação. Os vereadores da capital, na legislatura de 1992, como os atuais quiseram fazer recente, votaram um auto-aumento injustificável. Da reunião saíram com a idéia de ir à justiça protestar contra aquele abuso de poder.
Passaram dois meses colhendo assinaturas. Depois entraram com ação pública na justiça exigindo a devolução daquele dinheiro aos cofres públicos. Foram 19 anos de lutas. Na semana passada conseguiram a vitória. São R$ 5,3 milhões recuperados para a cidade. Dinheiro suficiente para construir 12 creches.
Os três fundaram a Sociedade Amigos do Boaçava. Eles se reúnem todas as semanas a 39 anos. De suas lutas e protestos saiu o Parque Villa-Lobos, a Praça Amundsen e atualmente visitam bairros da periferia da Zona Oeste para falar da importância do projeto Fichas Limpas na política nacional.
O interessante é que são aposentados, já com idade avançada e que bem podiam estar gozando do merecido descanso. Em vez de ficar jogando dominó no boteco, xadrez na praça, ou passeando pelas gôndolas dos shoppings, lutam em benefício da comunidade. Pensam um país e amam uma nação.
A isso chamo civilidade e não heroísmo. É obrigação civil exigir justiça e respeito aos cidadãos. Fôssemos todos um pouco assim e não teríamos a bandalheira que tem sido a política nacional. Não teríamos estudantes apanhando da polícia na frente de todo mundo por protestar pelo aumento dos ônibus. Não teríamos nossas ruas sujas, imundas e cheias de sacos de lixo.
Não encontraríamos crianças abandonadas dormindo em nossas calçadas centrais. Não teríamos aquelas pessoas destruídas, de olhar perdido e abandonadas nas praças. Não veríamos aqueles grupos de usuários de “crack” abandonados pelas ruas da capital. Já teríamos consertado quase todas essas e outras muitas falhas e dificuldades dos gestores da coisa pública.
O que nos falta? A coragem, a união, o respeito por nossas crianças, jovens e o amor ao outro que percebemos nessas três pessoas. E são pessoas comuns, iguais a qualquer um de nós. Mas tão raros, que tornaram seus atos civis em atos heróicos.
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Luiz Mendes
22/02/2011.