Pensando no Momento

Se tenho algum talento, este se aprimora pela minha obsessão em fazer cada vez melhor

por Luiz Alberto Mendes em

Curtas do momento

 

Obsessão

Se tenho algum talento, este se aprimora talvez pela minha obsessão em fazer cada vez melhor. Há uma continuidade de todos os dias que, de fora, pode parecer tediosa e levar à exaustão. Não sei quantas vezes leio um texto (não aqui que é rápido e vai de bate pronto) antes de aceitar que o publiquem. E quando passo ao editor, faço-o vacilante. Sempre quero dar mais uma lida. O problema é que uma lida pode levar a algo bem diferente do que já foi escrito. Para mim, chegar às imagens mais sensíveis e adequadas ao texto é quase uma doença. Exige remédios e cuidados diuturnos. Dormir com um texto insolucionado e acordar com um raciocínio, uma estrofe, ou mesmo uma só palavra que venha compor o que desejo dizer no texto, é glorioso. Concluir um trabalho é alívio enorme. A pressão do texto chega a ser dolorida. Depois, quando encontro alguém que lê, como ontem o professor Egnaldo Paulino, reconhece o esforço e gosta, é gratificante demais.

 

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Atores

Como faremos para escapar da tirania do tempo e construir ao nosso redor, nessa nossa tão breve existência, algo que parta de nossa vontade, além dos acidentes, das contingências e do passado? Assim claro, lúcido e belo? Percebo que quanto mais vou desenvolvendo minha consciência, menos natural vou me tornando. Em vez de viver, vou me tornando ator, uma consciência voltada para interpretar um script que vou escrevendo antecipado. Não vou sendo como gostaria. Apenas estou me fazendo ser como os que me cercam gostariam que eu fosse. Complicado será se me perder de mim representando o que a vontade dos outros me exige ser. Temo estar criando um personagem inexistente. Porque para mim é absolutamente claro que sou fluência, aprendizado e plástico. Estar em um personagem é estar pronto e acabado.

 

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Drogas

O uso da droga confirma uma verdade proibida de se dizer: A infelicidade é normal na vida humana. Felicidade encontra-se fora de alcance para a maioria das pessoas. Para ser feliz é preciso comportamento conseqüente. E uma atitude assim radical nos é praticamente impossível dados nossos limites, fraquezas e idiossincrasias. Além do fato de que as contingências e acidentes dirigem nossas vidas muito mais do que imaginamos ou queremos. Como felicidade não esta disponível, buscamos o prazer. Uma satisfação que encontramos na fuga da vida rotineira e infeliz. A droga, a bebida, o sexo desenfreado, velocidade, emoções violentas e outros gatilhos de prazeres nos ajudam a ir em frente, apesar de toda infelicidade que nos rodeia.

 

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Educação

Analfabeto funcional, segundo conceituou a UNESCO, são aqueles que não conseguem utilizar a leitura e a escrita para exercer cidadania e compreender a realidade. Alfabetizado é quem esta apto a assimilar conhecimentos via leitura e se fazer entender através da escrita.

75% de nossa população, segundo pesquisa do IBOPE, não consegue ler ou escrever satisfatoriamente. Conseguem ler palavras, mas não sabem o que elas significam e nem entende o sentido de um texto.

Pensando assim, dos 170 milhões de brasileiros, cerca de 130 milhões vivem imersos na ignorância. Isso é exclusão social. Dos 40 milhões restantes, alfabetizados mesmo, pouquíssimos têm o hábito da leitura ou escrita. Já foi dito que capacidade de um país é medida pela quantidade de escritores e leitores que ele possua.

As pessoas que detêm o poder, não se sentem com obrigação nenhuma de prestar contas ao povo que o elegeu (e são precisos cerca de 70 mil votos, pelo menos, para se chegar a deputado). Claro, a gente que os elegeu, em sua maioria, não pode cobrar nada                                               

de seus “representantes”. Não entendem nada, como cobrar?

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Quero só ver quando se esgotar o estoque de tolices e estupidez, e tivermos que apelar para a inteligência, como é que vai ficar.

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Luiz Mendes

14/10/2009.

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